São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 1996
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Escola Naval pode ter evasão após morte

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A morte do aspirante a oficial Eduardo Ferreira Agostinho, 19, ameaça provocar uma evasão em massa de alunos da Escola Naval do Rio.
Na próxima semana, uma comissão de pais de aspirantes vai procurar o comandante da Escola Naval, contra-almirante Marcos Augusto Leal de Azevedo, para pedir mudanças nos métodos de ensino da instituição.
Segundo nota do 1º Distrito Naval, o aspirante passou mal durante "prática esportiva conjunta" na terça-feira.
No dia seguinte, ele morreu no hospital Naval Marcílio Dias, vitimado por febre de 42 graus, falência renal, insuficiência respiratória e hepática e edema cerebral, conforme laudo do médico Evérton Pinto, que o atendeu.
Os pais de colegas de Agostinho dizem que ele desmaiou durante corrida no aterro do Flamengo (zona sul), por volta das 12h.
A corrida, segundo os pais, teria sido parte de um trote aplicado nos calouros da Escola Naval.
O comandante da Escola Naval nega as acusações. Segundo ele, Agostinho passou mal após as 17h, durante corrida recreativa.
"Não tenho conhecimento de trotes na Escola Naval. Se souber, expulso os envolvidos, como já fiz duas vezes desde que vim dirigir a escola, há três anos"', afirmou o contra-almirante.
O comandante disse que "a Escola Naval é radicalmente contra qualquer exagero físico". Ele abriu um IPM (inquérito policial-militar) para investigar a morte do aspirante.
A turma de Agostinho tem mais 203 aspirantes. Eles começaram na segunda-feira a cursar o primeiro dos quatro anos da Escola Naval, que forma oficiais de Marinha.
A maior parte do alunos está junta há três anos: 179 deles cursaram o Colégio Naval, em Angra dos Reis (cidade a 150 km do Rio), instituição preparatória da Escola Naval do Rio.
Com medo de represálias contra os filhos internados na Escola Naval, os pais decidiram falar como grupo, sem dar nomes. Segundo eles, já no primeiro dia de instrução, segunda-feira, dez aspirantes pediram dispensa.
O comandante da escola confirmou as baixas, mas as creditou à inadaptação dos aspirantes à vida militar. "Após a morte do aspirante ninguém mais pediu dispensa."
Se depender dos pais, pelo menos 50 alunos deixarão a Escola Naval na semana que vem. O comandante da escola disse que havia de 12 a 15 alunos veteranos acompanhando como orientadores a corrida recreativa.
O IML do Rio tem 30 dias para preparar o laudo com a causa da morte do aspirante.

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