São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 1996
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BC admite limites na entrada de dólares

Franco diz ter vencido especulação

CELSO PINTO
COLUNISTA DA FOLHA

O diretor da Área Externa do Banco Central, Gustavo Franco, disse que o governo venceu a batalha contra a entrada de capitais especulativos externos.
Seus argumentos, contudo, são polêmicos. Franco sustenta que os dólares que estão entrando agora são "capitais bons", ainda que possam ser excessivos.
Ele admitiu que o BC poderá "desenvolver instrumentos" tributários para desestimular a entrada de dólares, diferentes do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), já existente.
O ingresso de dólares acelerou neste ano e seu impacto monetário tem sido maior. Teria havido, contudo, uma mudança qualitativa no capital que entra. Se no passado ele era volátil e atraído pelas altas taxas de juros internas, hoje não seria mais.
O BC colocou, no ano passado, um IOF de 7% sobre investimentos externos em renda fixa, a porta de entrada do capital especulativo.
O mercado encontrou várias formas de contornar a proibição. A maioria acabava usando a conta de não-residentes, a famosa CC5, para fazer o acerto final.
Franco diz que o BC apertou o cerco contra o mercado a partir de setembro e outubro, numa "blitz" telefônica. O recado era que, mesmo que uma operação não fosse ilegal, se dela resultasse uma forma de contornar o IOF de 7% para investimentos do exterior em renda fixa brasileira, o BC poderia desfazê-la.
"Desde então, desapareceu a entrada via CC5 e a cessão de crédito", comemorou Franco. O movimento da CC5, de fato, caiu bastante. Este tipo de operação, contudo, continua viva, ainda que em menor escala.
O princípio destas operações é que exista alguém no país querendo pagar em dólares (para importar, remeter dividendos, etc.), e alguém lá fora com dólares querendo aplicar aqui em reais. Isso não mudou. O que aconteceu, segundo um banqueiro, é que, sem a CC5, as operações passaram a ser mais elaboradas.
Em um ponto, o governo saiu perdendo. A CC5 exige o nome de quem está operando, o que ajuda o Fisco, por exemplo, a buscar lucros ou remessas não declaradas. Ao apertar a CC5, o BC recriou um mercado informal, sobre o qual tem menos controle.
A evidência do fim do capital especulativo externo, segundo Franco, estaria no comportamento recente dos dois mercados cambiais. O segmento livre, onde se fecha o câmbio comercial e entra o capital que paga IOF, tem registrado pressão de entrada de dólares. Já o câmbio flutuante, onde são liquidadas operações menos ortodoxas, passou a registrar mais saídas do que entradas.
Esta situação levou, inclusive, o BC a ter um lucro de 0,5 ponto percentual com a diferença entre o preço de compra no segmento livre e de venda no flutuante. Só que nem todas as operações que contornam o IOF passam pelo flutuante.
Franco lembrou o aumento dos investimentos diretos, aplicações em portfólio e empréstimos motivados pelo prazo longo, não pelo custo, como prova de que, mesmo que reduzisse o juro, o BC não conseguiria conter este capital. É o que ele chamou de "armadilha da prosperidade", a atração que o país passou a exercer sobre capitais "bons".
Não é bem assim. Hoje, um banco pode tomar dólares pagando cerca de 11% mais a correção cambial, projetada em 10% este ano. Para tomar o dinheiro aqui, emitindo um CDB, ele pagaria 31%. A diferença justifica qualquer entrada, a prazo curto ou longo e a toma da de financiamento por importadores e exportadores.

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