São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 1996
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Testes serão banidos até meio do ano

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA

Até o meio do ano, estará assinado o CTBT, iniciais em inglês para tratado abrangente para proibição de testes, que bane totalmente provas nucleares, com qualquer tipo de carga (chamada "opção zero" no jargão diplomático).
Essa é a expectativa praticamente consensual entre os delegados de 38 países à Conferência sobre Desarmamento das Nações Unidas, que se inaugurou na última terça-feira em Genebra.
É fácil, de resto, explicar o otimismo: quem historicamente se opôs aos testes nucleares foram os países desenvolvidos, já possuidores de arsenal atômico.
Agora, são eles, com os EUA à frente, que mais impulsionam a assinatura do acordo dentro desse prazo, fixado pela Assembléia Geral da ONU no ano passado.
O fim da Guerra Fria é que explica a mudança de posição.
O delegado norte-americano, John Holum, diz que o banimento dos testes é "vital" para restringir a expansão das armas nucleares.
Quem resiste um pouco é a Índia, que tem armas atômicas, mas garante que não faz testes desde 1974, e a China, a única das cinco potências nucleares, além da França, que faz testes, embora alegue que os usa para fins pacíficos.
A delegação indiana gostaria de vincular o banimento dos testes à eliminação por todos os países de seus arsenais nucleares. Hipótese que nem sequer é considerada pelas demais potências nucleares.
Mas personalidades dessas potências, entre outro países, marcaram para abril, em Nova York, uma reunião da Comissão para a Eliminação das Armas Nucleares, com o objetivo de apresentar à ONU proposta nesse sentido.
Fazem parte da Comissão, entre outros, o ex-secretário de Defesa dos EUA Robert McNamara e o ex-premiê francês Michel Rocard.
Podem não conseguir a eliminação das armas nucleares, mas, quanto aos testes, a urgência da proibição ficou enfatizada, a partir de junho passado, pelo reinício das explosões francesas no atol de Mururoa, no Pacífico.
Já foram feitos três testes, todos cercados de fortes protestos dos grupos pacifistas e ambientais.
O governo francês alega que necessita fazer mais algumas experiências antes do banimento completo dos testes.
Por isso, está planejada uma explosão, que, segundo o governo francês, acontece até maio.
Os outros três países com armas atômicas (EUA, Reino Unido e Rússia) declararam moratória nos seus testes e a obedecem.
O Brasil faz parte do Comitê de Desarmamento, mas não possui armas nucleares. A posição das autoridades brasileiras foi sempre a de enfatizar que seu programa nuclear tem finalidades exclusivamente pacíficas.

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