São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 1996
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Responsabilidade política

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

É este o título do documento publicado pela Comissão Administrativa da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos no final de 1995. Orientações semelhantes vêm sendo oferecidas às comunidades por ocasião de cada uma das cinco últimas eleições.
É um apelo aos católicos para a participação ativa na política. Esclarece a função da igreja na vida política do país e apresenta 20 temas morais considerados básicos em vista da próxima eleição em 1996, nos Estados Unidos.
Também nós, no Brasil, vamos nos preparando para as eleições municipais de outubro. Neste ano, pela primeira vez, a Campanha da Fraternidade, durante o tempo da Quaresma, terá como tema a política. O texto-base, elaborado pela CNBB, já está sendo estudado nas comunidades.
O documento do episcopado americano faz referência à palavra do papa João Paulo 2º, em sua recente visita aos Estados Unidos, quando insistiu, com firmeza, nos fundamentos da democracia e, em especial, na defesa da vida nascente, das famílias pobres e dos imigrantes.
Aproveito para explicitar apenas três questões:
A primeira é a missão da igreja na ordem política. Nasce da compreensão de que o mandamento de Jesus Cristo de amar o próximo vai além do relacionamento individual e deve penetrar e transformar todas as relações humanas, desde a família até o convívio entre as nações e os povos.
Jesus veio para proclamar a boa nova aos pobres, a liberdade aos cativos (Lc 4,18). Ensina-nos a dar pão a quem tem fome e a cuidar dos enfermos e injustiçados (Mt 25).
No entanto, para superar a miséria, a violação de direitos e promover a paz não basta a caridade pessoal, é preciso uma ação eficaz que inclua instituições e a estrutura da própria sociedade, na sua organização econômica e política.
Compete à igreja, pastores e leigos afirmar os direitos humanos, denunciar sua violação e explicitar as exigências éticas no exercício da cidadania e contribuir com formas de participação social e política, que assegurem a construção de uma sociedade livre marcada pela verdade, justiça e fraternidade. Ao exercer a sua missão, a igreja não se baseia em sondagens de opinião pública ou em ideologias, mas no seu compromisso evangélico com o bem comum e a dignidade de cada pessoa humana.
A segunda questão que pode nos ajudar é o elenco de princípios fundamentais indispensáveis à promoção do bem comum: a) a primazia da vida e da dignidade da pessoa humana, com os direitos e deveres que daí decorrem; b) a defesa da família e apoio a condições dignas de vida, com especial atenção à criança; c) a dignidade do trabalhador, o direito de ganhar a vida com salário justo, de organizar-se em sindicatos e participar nas decisões; d) a opção pelos pobres mais atingidos pelas injustiças e mais merecedores da solicitude fraterna; e) a solidariedade cristã, como determinação firme e constante de empenhar-se na promoção do bem comum.
A terceira questão, escolhida entre os 20 pontos mais sérios para o debate político, é a de como enfrentar a "cultura da violência". Isso preocupa os Estados Unidos e a nós brasileiros.
O caminho proposto inclui opor-se ao aborto, apoiar a prevenção ao crime, proceder à reforma do sistema de justiça criminal e aplicar-se a eliminar a miséria, o uso de drogas, o desemprego e a desintegração familiar.
O ano de 1996 convoca a todos, e especialmente aos cristãos, em virtude do Evangelho, a assumir com mais coerência e responsabilidade o exercício da própria cidadania.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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