São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Maciel teme divisão da base governista

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente interino Marco Maciel lançou mão do Eclesiastes (um dos livros do Velho Testamento) num apelo aos integrantes da base de sustentação do governo para que não se atraquem na eleição de prefeitos. "Para tudo há o seu tempo", pregou Maciel, que completa seu 15º período de interinidade no Palácio do Planalto.
A pregação bíblica de Maciel coincide com os primeiros sinais de que os partidos aliados ao Planalto disputam espaço político na campanha municipal de olho no futuro -na escolha, em 1998, do sucessor de Fernando Henrique.
Maciel não considera garantida a sobrevivência da aliança entre PSDB e PFL na sucessão presidencial. "No mundo, há muitas limitações", avalia, em entrevista à Folha. Mas ele insiste em que o momento não é de pensar em 98, como ensina o Eclesiastes.
A coligação que elegeu FHC não se manterá na maioria dos mais de 5.000 municípios brasileiros. Em muitos palanques, os aliados do governo serão adversários.
A principal preocupação de Maciel é impedir qualquer abalo na base de apoio no Congresso. O problema é matemático: sem os votos de três quintos dos deputados ou senadores, ficam inviabilizadas as reformas na Constituição e ameaçado o futuro do Real.
"O presidente não vai tolerar nada que venha a abalar a base", afirmou Marco Maciel. E emendou: "Espero que as eleições não compliquem tudo." Por isso, qualquer movimento do governo em época de campanha eleitoral é tratado como "estratégico".
É estratégica, por exemplo, a orientação fixada por FHC para o comportamento de seus ministros nos palanques -um assunto que opõe os aliados do Planalto.
Maciel defende que o governo fique fora da campanha, mas destaca que os ministros "políticos" (com maior trânsito na vida partidária) "não podem se omitir".
Os ministros devem participar dos palanques desde que não usem a máquina, não façam promessas em nome do governo e limitem sua atuação ao seu Estado.
Se seguir esta última regra, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, só poderá fazer campanha em São Paulo. O ministro Raimundo Brito (Minas e Energia), na Bahia. E Nelson Jobim (Justiça), no Rio Grande do Sul.
A maior preocupação é evitar que a ação dos ministros pareça um privilégio a qualquer um dos partidos da base parlamentar, composta pelo PMDB, PFL, PSDB, PPB e PTB.
Maciel acha que o assunto deve ser resolvido exclusivamente pelo Congresso, no momento em que os parlamentares acharem melhor. O PFL abortou o debate da reeleição no ano passado e quer adiar a discussão para o ano que vem.

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