São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Loyola quer deixar o BC

CELSO PINTO

O presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, está mesmo disposto a deixar o cargo, talvez em dois ou três meses.
Em dezembro, Loyola entrou na sala do ministro da Fazenda, Pedro Malan, para dizer que estava disposto a ir para casa. Ouviu um longo apelo para que ficasse e acabou cedendo.
Entre os pares de Loyola na equipe econômica, há os que acreditam que Malan, quando a hora chegar, terá um arsenal de argumentos suficientes para demovê-lo mais uma vez.
Além dos argumentos pessoais, existe um ponto importante para o governo como um todo: certamente não seria bem recebida a notícia que o Brasil estaria escolhendo seu quarto presidente do Banco Central desde o início do Plano Real e o terceiro da administração Fernando Henrique Cardoso.
Bancos centrais devem ser vistos como cidadelas em defesa da moeda e a estabilidade de seu comandante ajuda a contaminar positivamente a imagem de estabilidade da moeda.
O ânimo de Loyola, de todo modo, é de sair. Ele está desgastado pelo tiroteio em que se meteu desde a quebra do Banco Econômico, em julho -e, principalmente, desde que atrapalhou a tentativa dos baianos de ficar com o banco.
Certo ou errado, os amigos de Loyola acham que ele acabou se transformando em alvo fácil numa disputa entre PFL e PSDB que envolve muito mais do que a política monetária.
O caso da pasta rosa, em dezembro, foi o ponto alto da guerra. Com a venda do Econômico para o Excel, que agradou o PFL baiano, a temperatura baixou e até o senador Antônio Carlos Magalhães mimoseou Loyola com elogios na semana passada.
Não foi o bastante, contudo, pelo que se sabe, para mudar a intenção do presidente do BC de deixar Brasília.
Como o poder não permite vácuos, a perspectiva da saída de Loyola tem estimulado a imaginação criadora em diferentes cidadelas da área econômica e política. Em algumas áreas, fala-se no nome do presidente do Banco do Brasil, Paulo Cesar Ximenes, como uma boa alternativa técnica e conservadora.
Membros da área econômica do governo lançaram, recentemente, um balão de ensaio com o nome do secretário-executivo da Fazenda, Pedro Parente. Outra alternativa lembrada é o secretário de Política Econômica da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros, técnico respeitado, homem de confiança de Malan e velho amigo do ministro do Planejamento, José Serra.
Se Loyola decidir mesmo sair, Malan deverá ter um papel importante na sua sucessão. Conforme o nome do futuro comandante do BC, poderia vir a ser afetado o delicado equilíbrio de forças entre a Fazenda e o Planejamento.
No início do governo Fernando Henrique Cardoso, o BC, mesmo sendo funcionalmente subordinado à Fazenda, teve luz própria sob o comando de Pérsio Arida, um economista com livre trânsito junto ao presidente.
Dadas as diferenças constantes de opiniões entre a Fazenda e o Planejamento, o BC, com frequência, funcionou como um tertius, ora aliando-se de um lado, ora de outro. Na crise do câmbio de março, por exemplo, Arida e Serra estavam juntos defendendo uma desvalorização mais agressiva, com Malan do lado do diretor da Área Externa do BC, Gustavo Franco, querendo um reajuste menor.
Com Loyola, o BC alinhou-se mais automaticamente com a Fazenda. Malan certamente não gostaria que esta situação se alterasse.
Loyola, pelo que se sabe, colocou para si próprio algumas tarefas antes de deixar o BC. A primeira foi cumprida, ao selar o futuro dos três grandes bancos que sucumbiram, o Banespa, o Econômico e o Nacional. O desfecho do Banespa não foi o desejado pelo BC, mas a situação está definida.
Acalmada a crise bancária, e com uma trégua no caso da pasta rosa, Loyola quer iniciar algumas mudanças institucionais no BC. Ele está convencido, por exemplo, que os casos Econômico e Nacional provaram que a fiscalização do BC faliu e tem que ser repensada. Ele acha que ela é muito formalista e incapaz de acompanhar um mercado financeiro sofisticado e rápido em seus movimentos.
Outro ponto que o BC quer atacar a curto prazo é o desenho dos instrumentos de política monetária. Este é um velho projeto que Arida não conseguiu deslanchar e que a crise bancária impediu que Loyola colocasse em prática até agora. Trata-se de mudar os instrumentos do redesconto e da zeragem automática das instituições financeiras no mercado aberto. Uma terceira área de preocupação é avançar um pouco mais na liberalização do setor externo.
É uma agenda ambiciosa, que pode vir a ser uma motivação a mais para Loyola acabar ficando em seu posto.

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