São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Mulher-empresária comanda vida de artistas

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O show de réveillon na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, levantou uma discussão sobre o valor dos cachês pagos aos artistas e outra sobre o fato de alguns desses artistas terem a carreira administrada por suas mulheres.
Lila Farias, mulher de Paulinho da Viola, armou uma confusão ao saber que ele recebera bem menos do que os outros convidados. Quem costuma contratar os shows diz que, salvo algumas exceções, o trato com a mulher do artista pode ser até melhor.
"Algumas mulheres-empresárias se portam como amadoras e complicam as negociações, mas na maioria das vezes elas são muito mais práticas", diz a diretora comercial da casa de espetáculos carioca Metropolitan, Márcia Álvarez, que tem experiência com empresários de artistas.
Por sua vez, as mulheres-empresárias se consideram um misto de assessoras especiais, negociantes e produtoras. "Marco entrevistas, cobro o cachê e seguro a onda da produção", diz Jane Reis, 42, mulher do cantor Luís Melodia. "A diferença para um outro empresário é que eu fico à disposição 24 horas por dia", diz.
Jane começou a "empresariar" Melodia há 16 anos, três depois de eles se casarem, por causa das constantes viagens do marido. "Eu sempre largava o meu trabalho para acompanhá-lo. Um dia resolvi assumir a agenda e os negócios do Luís."
Ela não se arrepende, mas diz que o trabalho "na estrada" (shows em outras cidades) é o pior. "A gente tem que dar atenção a toda a produção e, em especial, para o marido-artista. Nessas horas, quem vai separar a empresária da mulher dedicada?"
A empresa dela cresceu e hoje não dá para acompanhar Melodia em todas as viagens, mas bem que ele gostaria. "Outro dia o Luís veio me contar que uma menina entrou no camarim, levantou a saia e pediu um autógrafo na virilha. A história deve ter sido mais ou menos assim, mas ele me conta também para fazer eu ir junto da próxima vez. Ele fica muito carente longe de casa."
Outra que acostumou mal o marido foi Irany Pinheiro da Silva, 29, mulher e empresária do pugilista Maguila. "Ele é completamente dependente de mim", diz.
Irany está casada com Maguila há oito anos e trabalha como empresária dele há seis. "Comecei cuidando da agenda e hoje ele não dá um soco sem me consultar."
Maguila não é artista, mas faz comercial para a TV. Quem fecha os contratos é Irany. "Eles vêm com a proposta e eu faço a contra, de acordo com o valor dele no mercado naquele momento. Agora, por exemplo, que a Federação Mundial de Boxe outorgou a ele o título de campeão mundial, o preço sobe", diz.
Irany se considera uma pessoa objetiva e afirma que nunca volta atrás no preço do cachê. "Também não comparo com o de outros artistas. Recentemente, o Maguila fez um comercial de TV que era estrelado também pelo Raul Gazola. Não dá para comparar o cachê dos dois", diz.
O preço das obras do artista-plástico Cabral passou a interessar a marchand Clotilde Roviralta, 40, há sete anos. Ela era apenas uma colecionadora quando se casou com ele. "Transformamos a minha casa em galeria e montamos um ateliê para ele nos fundos."
No início foi difícil para Clotilde, porque Cabral trabalhava com outros marchands e galeristas. "Tive que agir com muita seriedade, para não parecer uma intrusa no mercado", diz.
O casamento dos dois acabou, mas eles continuam fechando negócios. "Essa parte até melhorou", diz Clotilde. "Tenho exclusividade sobre certas obras dele (as de vasos de flores) e agora posso ir tão fundo no trabalho do Cabral quanto qualquer outro marchand. Não preciso ter medo de parecer antiética", diz.

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