São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Beija Flor coloca pênis de 1,5 m na avenida

AZIZ FILHO
DA SUCURSAL DO RIO

Dezoito homens com fantasias representando pênis de 1,5 m de comprimento, 14 mulheres com vaginas de 0,5 m de altura, muitos seios à mostra e foliões com tapa-sexo deverão fazer do desfile deste ano da Beija-Flor um dos mais eróticos da história do Carnaval carioca.
Em 92, último ano de Joãosinho Trinta na Beija-Flor, a escola perdeu pontos por apresentar pessoas com a "genitália desnudada", o que é proibido pelo regulamento.
O uso do erotismo é indispensável, segundo o carnavalesco Milton Cunha, 33, para falar do homem brasileiro na pré-história. O enredo "Aurora do Povo Brasileiro" se baseia em descobertas arqueológicas na serra da Capivara, no Piauí, que apontam a presença humana no local há 50 mil anos.
"Não estou explorando o sexo como apelo. Quem usou e abusou foi a tribo da serra, que pintou nas pedras só orgias e bacanais. O Carnaval é o herdeiro de uma bacanal que rolava há pelo menos 17 mil anos", diz Cunha.
A pretensão maior do enredo, segundo ele, é destruir o senso comum de que o Brasil é um país jovem. "A morte do Brasil paraíso é que tem 500 anos, quando chegaram Cabral e a moral católica com suas culpas."
Milton Cunha diz que seu desfile vai "escandalizar só o branco de moral católica, que vive um mundo fictício, onde não há pênis nem vaginas".
O sétimo carro alegórico, "As Itacoatiaras, Pedras Pintadas", será o elemento mais erótico do desfile. Os pênis eretos e as vaginas serão costurados na altura dos órgãos sexuais dos 32 destaques, lembrando desenhos primitivos.
Os pênis, segundo Cunha, terão formatos diferentes porque "copiam a arte das cavernas, com tamanhos desproporcionais e formas estranhas, muito tortos ou parecidos com tacos de beisebol".
É o terceiro ano consecutivo de Milton Cunha na Beija-Flor. No ano passado, a escola ficou em terceiro lugar. Em 94, em quinto. Ele aposta na substituição do luxo pela originalidade para vencer.
Para contar a história da cavernas brasileiras, segundo Cunha, paetês e lantejoulas não são o material adequado. Ele vai usar couro cru, pedra, lã, madeira e ossos. "É original, mas não é pobre."
O carnavalesco sonha repetir com esse material o efeito de Joãosinho Trinta no Carnaval de 1989, com o enredo "Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia". O desfile surpreendeu pela ausência de luxo e a grande quantidade de integrantes fantasiados de mendigos.
"O Carnaval dos mendigos teve um enfoque supermoderno. O meu é primitivo. Aquilo foi um marco internacional do Carnaval e espero conseguir outro marco", afirma.
O uso da seminudez, segundo Cunha, se explica pelo enredo e pela tradição da Beija-Flor, conhecida no mundo todo, segundo Cunha, "pela profusão de seios e bundas lindas".

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