São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996 |
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Por que as reformas não andam
MARCOS CINTRA O sistema de representação no Brasil impele o político a ampliar benefícios. Nunca o induz a limitar, reduzir, ou cortar; na melhor das hipóteses, a deixá-los como estão.Conceitos como isonomia e justiça social, aliados a uma forma de representação política difusa, fazem com que o homem público comum se sinta forçado a atender interesses paroquiais, familiares, e até mesmo pessoais de seus supostos eleitores, mesmo suspeitando que o interesse público não esteja sendo promovido. O risco de retaliação eleitoral é pequeno. A representação difusa não irá responsabilizar o parlamentar pelos danos causados aos grupos de interesse eventualmente prejudicados. Não é momento para analisar as soluções. Outros saberão fazê-lo. Mas a mera aceitação deste diagnóstico já é passo fundamental na busca de saídas para grandes impasses no país. Ele explica por que o atual governo federal, eleito brandindo as bandeiras das grandes reformas constitucionais, não consegue romper o impasse e caminhar na direção das mudanças. Os lobbies contrários, mesmo minoritários, acabam sensibilizando o Parlamento. O Plano Real vai soçobrar se o ajuste fiscal não for realizado. As reformas tributária, previdenciária e administrativa não saem do papel. Os grupos de interesses contrariados pelas reformas se mobilizam, o que é legítimo em uma democracia representativa. Mas o inaceitável é que os políticos cedam a pressões localizadas. Esta lógica eleitoral está inviabilizando as reformas, o Plano Real, o futuro do país. O que diferencia o político comum do estadista é que o primeiro sucumbe às condições impostas para sua sobrevivência política; o estadista não se submete, e coloca o interesse coletivo acima de tudo. Mas o primeiro se reelege, ao passo que o segundo, na melhor das hipóteses, consegue ser mencionado nos livros de história como político menor, ainda que bem intencionado, sério e respeitado, mas derrotado nas urnas, e incapaz de transformar projetos em realidade. Texto Anterior: Globalização piora crise, diz economista Próximo Texto: Enfim, a sociedade reage Índice |
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