São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Globalização piora crise, diz economista

LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A inserção passiva do Brasil no processo de globalização da economia é a maior causa da crescente precarização das condições de trabalho e do aumento do desemprego no país.
A avaliação é do economista e professor da Unicamp Jorge Eduardo Mattoso, 46, um dos coordenadores do programa de governo do PT nas duas últimas eleições presidenciais.
Quando fala em inserção passiva, o economista se refere, especialmente, à abertura da economia patrocinada pelo governo federal, que Mattoso considera sem critérios.
"O Brasil aceitou o "evangelho da competitividade", que prega a abertura e desregulação da economia, como ocorreu nos EUA e Inglaterra", afirma.
Segundo ele, este "evangelho da competitividade" fez com que muitos países -entres os quais o Brasil, mas também e especialmente os EUA e a Inglaterra- acreditassem que o binômio "abertura e desregulação" seria necessariamente benéfico.
"A Argentina e o México também adotaram este "evangelho" e os dois países tiveram forte aumento do desemprego e da precarização de seus mercados de trabalho", diz Mattoso.
A precarização inclui o aumento do trabalho informal -sem carteira- e do tempo de jornada.
No caso da Argentina, diz o economista, o desemprego atingiu recentemente 20% da PEA (População Economicamente Ativa), chegando a mais de 25% no caso da Grande Buenos Aires.
Já no caso do México, o desemprego cresceu 51% nos últimos 15 anos e 35% da população (31 milhões de pessoas) vive atualmente abaixo da linha de pobreza.
Mas, se é verdade que o receituário neoliberal de ajuste da economia (citado por Mattoso no artigo "Emprego e Concorrência Desregulada: Incertezas e Desafios") encontrou acolhida nos países em desenvolvimento da América Latina, outros países, diz Mattoso, foram contra essa tendência.
"Entre os países desenvolvidos, o Japão, a Alemanha e a Holanda são exemplo disso. E recentemente a África do Sul deu exemplo de negociações bem-sucedidas", diz.
Esses países, na avaliação do professor da Unicamp, preservaram -e incrementaram- instâncias internas de negociação.
Câmaras setoriais
No caso brasileiro, o economista destaca as negociações que foram feitas nas câmaras setoriais, criadas em março de 91, como exemplo de uma postura ativa.
Essas câmaras foram redefinidas no governo Itamar Franco, com o objetivo de "buscar alternativas negociadas entre empresários, trabalhadores e governo para a reestruturação da indústria e modernização das relações de trabalho", segundo o próprio governo.
"Essas câmaras foram completamente abandonadas, principalmente depois que Fernando Henrique assumiu o Ministério da Fazenda", afirma Jorge Mattoso.
O maior problema que o economista vê nas câmaras setoriais é que elas não são suficientes para traçar uma política industrial para o pais. Por isso, o economista defende que, juntamente com a retomada das câmaras, sejam criados organismos para "costurar" as várias políticas setoriais.
Governo x centrais
O economista Jorge Mattoso critica o acordo esboçado entre governo e as centrais sindicais, em torno da reforma da Previdência.
"O acordo vai na contramão do que o mundo inteiro está fazendo. Enquanto vários países diminuem ao máximo o tempo de permanência das pessoas no mercado de trabalho, o Brasil vai fazer o contrário", diz o economista.
Isso vai ocorrer caso seja aprovada a proposta de passar a contar o tempo de contribuição para efeito de aposentadoria, e não mais o tempo de serviço.
"O lado bom dessas negociações é que elas mostram a importância das centrais participarem da formulação da política econômica", diz Mattoso.

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