São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Empresas competitivas estimulam a criatividade

ENRIQUE JURADO
DO "EL PAÍS"

Van Gogh (1853-1890) fazia círculos de grande beleza, mas não era um criativo -era simplesmente um pintor genial.
A criação individual é bem diferente daquela que se pode aplicar nas empresas, embora os sujeitos da inventividade sejam os mesmos: homens e mulheres.
Encontra-se criatividade empresarial nas técnicas necessárias para fomentar a inspiração individual, embora frequentemente sejam desenvolvidas em grupos.
O inventor norte-americano Thomas Alba Edison (1847-1931), que descobriu a luz elétrica, observou certa vez que "5% da invenção é inspiração e 95%, suor".
Para o escritor Albert Shapero, autor de "Los Profesionales Criativos en la Empresa", "criatividade é aquilo a que Edison chamou inspiração -a geração da idéia que é preciso trabalhar e desenvolver detalhadamente até que atinja uma forma produtiva e utilizável".
Deixemos de lado as definições. Quantas vezes não se ouve nas empresas a frase demolidora: "Aqui não se vem para pensar e sim para trabalhar"? Quando não a ouvimos, desconfiamos que o chefe está pensando que seria melhor se não pensássemos.
As empresas são organizadas sem a preocupação em fomentar a criatividade das pessoas. Isso é reflexo dos comportamentos socioculturais vigentes desde que o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) começou a desenvolver um tipo de raciocínio "racional".
"O homem razoável se adapta ao mundo, o homem que não é razoável adapta o mundo a si mesmo; consequentemente, todo progresso depende do homem que não é razoável", afirmava o escritor irlandês Bernard Shaw (1856-1950).
"A tarefa de tornar uma organização mais criativa se torna ainda mais difícil devido à existência de certas barreiras. Algumas são facilmente elimináveis, mas outras estão enraizadas na história e nas tradições da empresa. Elas não podem ser eliminadas, mas é possível desviar-se delas", observa Simón Majaro, professor de marketing e consultor.
"Algumas dessas barreiras surgiram em consequência de medidas estratégicas ou estruturais tomadas no passado", diz.
Como exemplo, cita a centralização das decisões. "Foi decidida calculando-se vantagens e desvantagens, deixando de levar em conta seu efeito sobre a criatividade."
O desenvolvimento da criatividade na empresa requer um tipo de organização determinada. As empresas hierárquicas, burocratizadas e pouco preocupadas com a participação dos funcionários dificilmente saberão canalizar as contribuições espontâneas.
Mas existem passos prévios para a consolidação de fórmulas de criatividade na empresa. Para incentivá-la, é imprescindível criar um clima apropriado para seu desenvolvimento.
A filosofia dos "círculos de qualidade" pode ser aplicada aos chamados "círculos de criatividade". Na opinião de Simón Majaro, "os círculos de qualidade contribuíram para criar um clima em que a busca da qualidade e da produtividade foi bastante reforçada".
Para Isabel Rubio, professora do Instituto da Empresa, muitas empresas chegaram ao limite do que a melhora da qualidade é capaz de trazer de positivo. "É preciso gerar mecanismos de criatividade como nova ferramenta para assegurar a competitividade."
O mundo está repleto de pessoas criativas que nunca foram ouvidas. Todo um potencial inesgotável se perde a cada dia porque ninguém pára para ouvir a idéia aparentemente despropositada de um funcionário qualquer.
Existem outras técnicas para a geração de idéias dentro da estrutura da empresa, além da "tempestade de idéias" ("brainstorming"), a mais comum.
A seguir, o consultor Simón Majaro descreve a análise metafórica, a sessão de provocação, a idéia mais extravagante, a análise morfológica, a imaginação de cenários e o esquema de sugestões.
Análise metafórica - o método deriva da técnica "sinéctica" (união de elementos desiguais e aparentemente irrelevantes). Por exemplo, para evitar roubo de carros pode-se pensar em como o gambá se defende dos predadores, emitindo um mau cheiro insuportável. Quando alguém forçasse a fechadura do carro, um líquido hediondo poderia se desprender e "convencer" o ladrão a desistir.
Sessão de provocação - pede-se aos integrantes de um grupo que escrevam em separado num papelzinho as idéias que lhes forem ocorrendo a cada momento. Aqui o estímulo não é a geração de idéias a partir de outras ouvidas, como no "brainstorming", e sim a maior quantidade de idéias.
A idéia mais extravagante - trata-se de gerar idéias disparatadas, para depois voltar à realidade e torná-las mais razoáveis. É um bom método para colocar o cérebro em funcionamento.
Análise morfológica - é uma técnica que permite gerar idéias num espaço de tempo pequeno, orientada mais à criatividade exploratória (desenvolver oportunidades futuras) do que à normativa (resolução de problemas).
Imaginação de cenários - é um excelente exercício para conscientizar as empresas do contexto futuro no qual irão atuar.
Esquema de sugestões - trata-se de um meio de comunicação e motivação entre o pessoal de uma empresa. Todos sabem que as idéias apresentadas serão avaliadas e possivelmente postas em prática na própria empresa. Isso porque, diferentemente do que ocorre com os círculos de qualidade, a geração de idéias na empresa não deve ser um simples exercício de imaginação -essas idéias precisam ser aplicadas. Se não, para que perder tempo e neurônios?

Tradução de Clara Allain.

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