São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Naves devem levar à estação internacional

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Apesar de suas falhas, os ônibus espaciais chegaram a uma situação confortável dentro da burocracia espacial americana. São o maior projeto e não têm sucessores viáveis a curto ou médio prazos. E são eles que devem montar a projetada estação espacial Alpha, que iniciou a vida (por enquanto de papel) como Freedom ("liberdade").
A ligação com a Alpha daria algum sentido ao programa. Em vez de ficar fazendo viagens curtas, de uma semana, simplesmente dando voltas em torno da Terra, as naves passariam a ter um destino para onde levar astronautas.
O ônibus espacial é recuperável apenas em parte. Ele é formado pela nave, por um enorme tanque de combustível líquido e por dois propulsores de combustível sólido.
Os propulsores ficam dos dois lados do tanque de combustível na barriga da nave. Foi um defeito neles que causou a perda do Challenger -um anel de vedação que não aguentou o frio a que foi submetido na plataforma de lançamento e o calor subsequente do lançamento.
Os propulsores caem no mar, de onde são recuperados e reconstruídos; o tanque é perdido. A nave vai e volta e tem motores para se movimentar em órbita.
O grande compartimento de carga, cujas portas podem se abrir em órbita, permite carregar mais de um satélite para lançamento, embora eles tenham de ter um estágio-foguete adicional, caso seja necessário levá-los a órbitas mais elevadas, o que acaba encarecendo o preço da missão.
Já se notou que comercialmente os ônibus espaciais não são competitivos, notadamente se comparados com os foguetes europeus Ariane, do tipo "descartável", mas mais baratos de lançar. Foguetes russos e chineses são ainda mais baratos.
O compartimento de carga termina sendo mais útil para a pesquisa científica. Ali pode ser levado um laboratório como o europeu Spacelab, ou vários telescópios, ou um radar capaz de observações precisas da superfície terrestre.
Mas, mesmo com um compartimento de carga volumoso, os ônibus vão precisar de várias missões -estima-se que 20- para montar a estação Alpha. Nesse ponto o futuro das naves está umbilicalmente ligado ao da polêmica estação.
Os então soviéticos se especializaram em construir estações espaciais simples, verdadeiros fuscas em órbita, como as da série Salyut e a Mir. Os americanos já tiveram a sua, a bem mais luxuosa Skylab, subproduto do projeto Apollo, mas cujo programa foi terminado (a própria estação caiu na Terra). Já a Freedom, hoje Alpha, foi projetada para ser ainda mais chique.
As mesmas críticas feitas aos ônibus são feitas em relação à estação -basicamente, que muito da pesquisa poderia ser feita de modo mais barato por instrumentos e equipamentos automatizados, por exemplo um satélite especializado na produção de cristais especiais em ambiente de microgravidade.
(RBN)

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