São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Telescópio Hubble inaugura nova era

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se até o fim de sua vida útil, calculada em dez anos, o telescópio espacial Hubble continuar a fornecer amostras de capacidade científica e tecnológica semelhantes às fotos já liberadas pela Nasa, teremos provavelmente de reescrever os atuais textos de astronomia, pelo menos na parte moderna.
A clareza, o colorido e a resolução das novas fotos são de difícil superação. E pensar que, logo depois de seu lançamento, o telescópio pareceu um grande fiasco devido especialmente a erro no sistema de polimento das lentes.
Michael Lemonick publicou no "Time" diversas dessas fotos que revelam objetos e eventos extraordinários, como o nascimento de estrelas a partir do hidrogênio, colisões galácticas geradoras de novas estrelas, inexplicados fenômenos em nebulosas como a "olho de gato", o impacto do cometa Shoemaker-Levy 9 em Júpiter e muitas outras, inclusive estrelas mais antigas que o próprio Universo, que sugerem reformulação da hipótese do "big bang". Muito disso captado a distâncias fabulosas, nos bordos do Universo.
A idéia do planejamento e da construção do telescópio espacial começou a esboçar-se em 1945, quando a Força Aérea Americana quis saber da conveniência científica de instrumento desse gênero.
Consultado, Lyman Spitzer elaborou relatório positivo, que salientava duas principais vantagens. A primeira consistia em ser a atmosfera terrestre verdadeira cortina que vedava a passagem de muitas cores correspondentes a radiações. A segunda consistia nos movimentos gasosos que tornavam difusa a luz dos objetos, dando-lhes aspecto esfumaçado.
Um telescópio colocado em órbita além da atmosfera permitiria ver com mais nitidez e mais diferenciadas cores os objetos do espaço, sem falar na maior distância. A aprovação do projeto durou vários anos, e a construção só foi autorizada em 1983, escolhido, para denominá-lo, o nome de Edwin Hubble, o famoso descobridor da recessão das galáxias, que permitiu calcular o tamanho e o tempo do universo.
O Hubble foi colocado em órbita em 1990, mas logo depois se revelou sua quase cegueira. Para corrigir o erro de fabricação, a Nasa organizou missão de reparo e atualização, cujo trabalho realizado pela tripulação em pleno espaço foi transmitido pelas televisões de todo o mundo.
Outras missões semelhantes estão previstas periodicamente para manter o Hubble atualizado e perfeito até o fim.
Começou-se em 1993 uma série de estudos sobre os frutos científicos. Conseguiu-se o mais preciso padrão para medir a expansão do Universo e sua idade. O cosmo é 2 bilhões de anos mais novo que sua antiga idade. Ela é hoje calculada em 8 a 12 bilhões de anos.
Por enquanto não há dúvida quanto à superioridade do Hubble em relação aos telescópios fincados no solo. Mas especialistas nesses instrumentos continuam a estudar o aperfeiçoamento dos telescópios de Terra e é possível que, com o tempo, eles igualem ou superem as vantagens do espacial.

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