São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Esclarecimento; Procedimentos; Revolução; Estímulo ao preconceito; Reeleição; Ausência prejudicial; Desrespeito

Esclarecimento
"A propósito do artigo assinado pelo jornalista Celso Pinto intitulado 'Rondônia tem amigos em Cali' (26/1), a Superintendência de Comunicação Governamental, em nome do governo do Estado de Rondônia, esclarece que não existe, por parte do Executivo estadual, nenhum tipo de contato, profissional ou de amizade, com nenhuma entidade ou organizações colombianas, sejas elas legais ou ilegais. A empresa colombiana Mobil, entretanto, no início do ano passado realmente manteve contato com o governo, demonstrando interesse em financiar projetos de saneamento básico, asfalto, estradas vicinais, entre outros. Desde o primeiro momento o governador Valdir Raupp teve o cuidado de solicitar informações sobre a referida empresa à Embaixada do Brasil em Bogotá, Ministério do Planejamento e ao Banco Central e, ao ser informado das suspeitas de ligações da Mobil com o narcotráfico, suspendeu imediatamente, em julho de 95, todas as negociações que vinham sendo propostas. O governador Valdir Raupp, conforme aliás reconhece o articulista, teve como uma de suas propostas de campanha o combate ao narcotráfico e vem reiterando na prática esse compromisso, reforçando as estruturas policiais e dando todo o auxílio necessário, quando solicitado, às atividades do Ministério da Justiça, por meio da Polícia Federal, em Rondônia."
Luiz Carlos Araújo dos Santos, superintendente de Comunicação Governamental do governo do Estado de Rondônia (Porto Velho, RO) ²

Resposta do jornalista Celso Pinto - A carta confirma, em todos os detalhes, o teor do artigo.

Procedimentos
"A propósito da carta intitulada 'Ataques' (Folha, 24/1), assinada pelo presidente da Abredi, sr. Percival Maricato, já considerava o assunto superado. Na qualidade de titular da pasta que tem por uma de suas atribuições a fiscalização sanitária dos estabelecimentos, reserva-me o direito de convidar os órgãos de imprensa e as equipes do Decon para acompanharem os nossos trabalhos, e jamais fui questionado ou acusado por abuso de poder ou arbitrariedade. Numa reunião acontecida na Câmara em agosto de 95, os procedimentos de fiscalização adotados pela Semab foram amplamente discutidos com os comerciantes e diretoria da Abredi; na ocasião, o delegado do Decon presente, dr. Marco Antonio Cicone, garantiu que o Código de Defesa do Consumidor não deixa dúvidas com relação ao prazo de validade dos produtos e outras determinações. Naquela oportunidade fiz um desafio à diretoria da Abredi para que escolhessem qualquer restaurante para ser submetido à fiscalização sanitária, com a certeza de que muitas irregularidades seriam encontradas. Até hoje isso não aconteceu. Em 22/7/95 a Folha noticiou que o sr. Percival Maricato enviaria uma representação ao governador Mário Covas contra o Decon. Se de fato esse ato se concretizou, talvez tenha sido motivado pela prisão em flagrante, duas semanas antes, do gerente de seu restaurante, após terem sido encontrados no local 71,4 kg de alimentos vencidos e sem procedência. Nunca ataquei a integridade do sr. Maricato ou a de seu estabelecimento, também nunca me preocupei se os donos dos estabelecimentos fiscalizados são associados ou sindicalizados. Se determinado estabelecimento é um exemplo de higiene, o mérito é exclusivo do seu proprietário, independente da entidade a qual está vinculado."
Waldemar Costa Filho, secretário municipal de Abastecimento da Prefeitura de São Paulo (São Paulo, SP)

Revolução
"Há uma revolução em curso nos campos e parecemos surdos a ela. Talvez porque imaginemos não ser essa uma luta nossa, já tão vitimados que somos pela violência e degradação urbanas. A 'intelligentsia' nacional, tão sensível aos conflitos ideológicos internacionais, parece não se seduzir por esse movimento caipira e nossos revolucionários pés-de-alpercata não conseguem ver ecoar sua utopia entre nós. Há mais de um ano trabalho com meninos homicidas presos, no Rio e em Brasília. Em sua quase totalidade eles pertencem a famílias de camponeses, expulsos do campo pela miséria e desesperança. O país que sonhamos é inalcançável sem a partilha da terra. Verdadeiras legiões aguardam no campo, numa última tentativa de não agravar ainda mais o caos das nossas megacidades. O pleito desesperado desses brasileiros precisa urgentemente do nosso concurso, apoio e engajamento."
Antonio Veronese (Rio de Janeiro, RJ)

Estímulo ao preconceito
"Não venham me dizer que sou recalcado. A Folha publicou uma frase de Einstein: 'É mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito'. E vem vocês e publicam uma foto do funeral do presidente Mitterrand com a seguinte legenda: 'De um lado a esposa, o filho legítimo; do outro lado a amante e a filha ilegítima'. Vargas há muito baniu o termo 'ilegítimo' das certidões de nascimento e vem vocês, jornalistas fabricantes do caos, estimular o preconceito idiota da raça humana por meio desse tipo de citações. O nascituro já vem estigmatizado."
Haroldo Vieira da Costa (Rio de Janeiro, RJ)

Reeleição
"A reeleição deveria ser adotada neste ano. Custa muito mais barato aos cofres públicos, já que o uso da máquina não se faz tão necessário. O que o eleitor vai levar em conta para reeleger alguém será o que foi feito durante o mandato. Outro item que deverá ser analisado é o das mudanças de siglas. Não deverá se permitir a troca de partidos durante o mandato. Outro assunto que tem de ser visto é a história do trampolim político. Não se pode admitir que alguém abandone o barco para se candidatar a um outro cargo. Sem essas reformas o caminho para o Primeiro Mundo fica muito mais difícil."
Curt Nees (Joinville, SC)

Ausência prejudicial
"Se na equipe do Ministério da Saúde tivesse a inteligência e a capacidade da mulher brasileira, o presidente não teria se apoquentado quando, por induzimento, vetou os artigos sobre esterilização voluntária de mulheres e homens da lei sobre planejamento familiar."
Elisabeth Massuno (São Paulo, SP)

Desrespeito
"Muito ilustrativo o editorial 'Desrespeito', de 4/1: ensinou de maneira irrepreensível os perigos a que estão sujeitos os incautos e os homens de boa-fé. E crucificou acertadamente a operadora Mundirama. Muitos mais ensinamentos, porém, chegaram com a constatação, na pág. 6-11 (mesma edição), do anúncio com propaganda das maravilhas a se conseguir por meio daquela empresa. Evidenciou-se que 'incompetência ou má-fé de algumas operadoras ou agências de turismo' muitas vezes contam com forças poderosas para iludir a população. Que os hipócritas pululam também em corredores diversos daqueles abordados pelo editorial. Por favor, não aleguem compromisso de contrato. Nada de bom justificaria publicar anúncio de 1/3 de página da Mundirama. Se o mesmo estava pago, devolvessem o dinheiro. 'Desrespeito' calou fundo na alma dos leitores da Folha. Não como um editorial do jornal, mas, sim, como uma prática."
Flavio Aparecido Cavalle (Guarulhos, SP)

Nota da Redação - A Folha evita censurar anúncios. Simultaneamente à publicação de publicidade da Mundirama, foram noticiados os danos causados pela empresa e foi publicado o referido editorial afirmando que "a acertada suspensão, por 30 dias, do registro da operadora Mundirama pela Embratur é o mínimo que se poderia esperar".

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