São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Um projeto de política externa para 1996

LUIZ FELIPE LAMPREIA

Na entrevista coletiva de 17 de janeiro, o presidente FHC forneceu o marco básico com o qual o Itamaraty está trabalhando para continuar a implementar a política externa deste governo.
Nela o presidente alinhou alguns dos elementos que melhor contribuem para impulsionar a nossa política externa, projetar uma imagem positiva do Brasil junto aos nossos parceiros e neles alimentar o interesse demonstrado de tão variadas formas em 1995.
O apoio popular ao governo, a sustentação da estabilidade econômica, o crescimento da economia -ainda que existam problemas setoriais-, a forma serena com a qual foram tratados problemas conjunturais, como a crise financeira que afetou a América Latina, ou questões tópicas como o desequilíbrio da balança comercial, as mostras de amadurecimento e equilíbrio na forma de fazer política e de administrar o país e a determinação de prosseguir as reformas estruturais indispensáveis para consolidar a estabilidade e o crescimento, fomentar os investimentos produtivos nacionais e internacionais e tornar o país mais competitivo e dinâmico.
A esses elementos somam-se o amadurecimento da democracia brasileira, que se traduz em estabilidade e transparência -duas mercadorias muito apreciadas no mundo competitivo da globalização- e uma abordagem objetiva e pragmática da questão social, sem ranços populistas, com ênfase na educação -o grande trunfo dos países que estão dando certo- e sem descuidar a questão dos direitos humanos.
Somado ao que fizemos em matéria de reforço da nossa credibilidade internacional em 1995, de que é um paradigma o ingresso do Brasil no MTCR -o regime de controle de tecnologia missilística-, temos para 1996 um cenário quase ideal para que um grande país em desenvolvimento como o Brasil se mova em um mundo marcado pela integração econômica, pela globalização e pela intensa busca de parcerias novas ou renovadas. É nesse cenário que a política externa continuará a ser um instrumento do projeto de estabilização com retomada sustentada do crescimento.
É também nesse cenário que nós continuaremos o trabalho de renovar ou revitalizar as nossas principais parcerias externas, acrescentando aos países visitados pelo presidente em 1995 o Japão, Argentina, França, Canadá e Itália.
Vamos também aprofundar o compromisso com novas e importantes parcerias que, por razões que seria longo explorar aqui, ficaram em segundo plano até passado recente -a Índia e a África do Sul.
A dimensão da diplomacia presidencial continuará a ser central na promoção dos nossos interesses no exterior, pois ela provou ser capaz de mobilizar os agentes governamentais e econômicos e catalisar iniciativas e vontade política com países que ocupam um lugar de realce no nosso comércio internacional ou nos fluxos de investimentos e tecnologia de que necessitamos.
Na seleção dos nossos objetivos diplomáticos continua a prevalecer um sentido de relevância e equilíbrio. Centrando nossa atenção na nossa vizinhança continental -a América do Sul-, vamos intensificar nossa política asiática e continuar explorando as oportunidades que surgiram na África, com Angola, Moçambique e África do Sul prenunciando um "renascimento africano", e no Oriente Médio, em vias de pacificação. O Mercosul, EUA, União Européia, Japão, China e Rússia continuarão a ser nossos pontos focais.
Ao bilateralismo clássico que estamos energizando com a diplomacia presidencial soma-se o intenso multilateralismo destes anos 90. Em 1996 a integração regional e a consolidação do Mercosul -aí incluídas as relações do bloco com outros países ou regiões- continuarão a ocupar grande parte dos esforços da nossa diplomacia econômica.
A OMC será palco de intensa atividade de defesa dos interesses do comércio exterior do Brasil, que busca competitividade ao tempo em que deseja equidade e "fair play" no acesso a outros mercados e prudência para a consolidação do Real. A integração hemisférica, com o seguimento da Cúpula de Miami e da reunião de Denver, é outra área prioritária da diplomacia multilateral brasileira, combinando uma vertente política de promoção e defesa da democracia com uma vertente econômica de integração e liberalização comercial que deve ser cuidadosamente calibrada e ajustada aos nossos esforços de consolidação do Mercosul e de ampliação das suas parcerias em todo o mundo.
E a ONU, que não chegou a completar o projeto de reforma e fortalecimento dos seus órgãos e de melhoria da sua eficiência, continuará a exigir do Brasil, em 96, um trabalho intenso de reflexão, acompanhamento e participação.
Nossa agenda continua, portanto, intensa e variada. É um reflexo natural do peso específico e da presença internacional global do Brasil, mas é também o resultado daquilo que estamos realizando em nosso próprio país.
Da perseverança na realização desse projeto interno dependem em grande medida a continuidade dos bons resultados que temos alcançado lá fora e a consolidação da mudança qualitativa que se está operando na imagem e na inserção internacionais do Brasil.

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