São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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a massa me ama

MARISA ADÁN GIL

Ele excita senhoras de 50 anos e tem fantasias eróticas com Demi Moore. Ricardo Macchi, 25, devolve o tesão à novela das oito
Fora da tela, Ricardo Macchi exorcisa o cigano Igor de "Explode Coração" falando sem parar. Antes de balbuciar o texto insosso de Gloria Perez, Ricardo Macchi, 25, ganhava a vida exibindo nas passarelas de Milão seu físico (1,86 m, 88 kg) e rosto perfeitos. Gaúcho, veio para São Paulo com 19 anos. Reprovado no vestibular, resolveu ser modelo. Em 95, trocou a Suíça pela Globo, a pedido de Denis Carvalho. Virou tesão e piada nacional. "Crítica é para teatro", diz. "TV é para a massa, e a massa me ama."

Como é o assédio das mulheres?
Elas perdem o controle, ficam gritando, desmaiam. Tive que me mudar do Leblon para a Barra para fugir das fãs. Cantadas, eu recebia mais quando não era conhecido. Agora, elas cantam, invadem o quarto do hotel, mas é diferente. Parece que não estão querendo para valer.
Não teve nenhuma mais forte?
Teve uma cantada muito legal, de uma mulher de 45 a 50 anos. Ela me disse que, quando eu apareço na televisão, desperto os hormônios femininos dela. Aí, ela aproveita e chama o marido.
Seu personagem na novela é rejeitado, mesmo sendo um "gostosão". Já aconteceu com você?
Nunca. Acho que seria difícil, não sei qual seria minha reação.
Você se recusa a tirar fotos sem camisa, dizendo que não quer explorar a imagem de símbolo sexual. O que acha de Madonna, que faz e assume?
Acho que ela é uma ótima atriz.
E Adriane Galisteu?
Não gosto de falar das pessoas. Acho ela bonitinha.
Quem é o seu símbolo sexual?
Demi Moore, ela é o máximo. Nesse filme que vai estrear, "Striptease", ela está com um corpo maravilhoso.
Você tem problemas com cenas de sexo na TV?
Por enquanto, só fiz beijo. Mas não acho que vá ter problemas. Todo mundo faz.
Você aceitaria fazer o papel de um homossexual?
Acho que sim. Não tenho nenhuma insegurança em relação a isso. Só não sei se conseguiria fazer bem.
O que você acha das críticas à sua atuação?
Eu entrei sem saber nada de TV. Nunca asssisti novela. Não fiz Oficina de Atores da Globo. Não sabia o básico. Achava que tinha que fazer os gestos lentos, senão a câmera não pegava. Agora, estou aprendendo.
Na frente do público.
Eu sei que me expus muito. Acho que isso é muito bom e muito ruim. De uma certa forma, estou fazendo sucesso, 200 cartas por semana, gente do Brasil inteiro me procurando. A televisão é comercial. O que é que vende? Plasticidade. Tenho 25 anos, sou novo, posso aprender. Se a minha imagem já deu supercerto, imagine só quando eu adquirir know-how. Mas as pessoas têm inveja. Senti muito a falta de incentivo.
Você chegou a se arrepender de ter aceito o papel?
Teria sido melhor se eu estivesse preparado. Mas teria sido mais fácil, também, se eu estreasse interpretando eu mesmo: um cara solto, que fala para caramba. Eu ousei estrear fazendo um tipo. Li o perfil do Igor, um cara frio, calculista, que fala pouco. As pessoas dizem que o Igor não fala porque eu não sei falar. A Glória escreveu há séculos isso! Só que o público já foi condicionado a me ver como o "Ricardo Machi, péssimo ator". Sei que vou melhorar.
Tem gente que nunca melhora. Silvia Pfeifer e Victor Fasano, por exemplo.
Eu acho que crítica é para teatro. A nossa televisão é para a massa. E a massa me ama.
Não se deve exigir qualidade na TV?
Não, você tem que exigir...Mas todo começo é difícil, então as pessoas deviam incentivar.
Foi convidado para teatro e cinema?
Fui, mas acho que não é a hora. Preciso estudar mais. Na TV, comecei agora a ter aulas particulares. Quando acabar a novela, quero fazer cursos de teatro e de cinema em Nova York. Meu sonho é fazer cinema. Também devo voltar a desfilar. Adoro fazer as grandes coleções.
Você sofre preconceito por ser modelo?
Sofro preconceito por ser bonito. Isso é uma coisa do Brasil. Se você reparar em todos os atores americanos, de qualquer época, vai ver que são todos bonitos, com corpos bem moldados. E nunca foram discriminados. Aqui no Brasil, você aparece bonito e fortinho, falam que você é bobo. Eu sei que eu nasci para isso. Nasci para fazer sucesso. E, bem ou mal, estou fazendo.

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