São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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alternativa de saúde

CRISTINA ZAHAR
FOTO ROCHELLE COSTI

O trumpetista Claudio Faria tinha 22 anos quando sofreu perfuração da pleura, a membrana que envolve o pulmão. O acidente foi bobo: Claudio mergulhou em Copacabana e, como a água estivesse muito gelada, sentiu uma forte dor no peito.
Não deu muita bola. Afinal, à noite tocaria com Elis Regina no Canecão. Ao final do show, estava muito pálido. Diante da insistência de amigos, foi a um pronto-socorro. Diagnóstico: pneumonia. Elis achou a história estranha e indicou a Claudio um acupunturista japonês. O homem negou que fosse pneumonia e pediu ao rapaz algumas radiografias.
Um segundo médico fez o derradeiro diagnóstico: perfuração da pleura. A solução, segundo ele, era uma só: cirurgia. Claudio hesitou. Voltou ao acupunturista e perguntou se havia outro jeito de curá-lo. Havia. Com acupuntura e moxabustão (queima de ervas nos pontos de acupuntura), o músico sarou.
Desde então, seus pulmões nunca mais lhe deram problema e ele virou um fiel adepto das especialidades médicas alternativas.
Plano holístico
Em outubro de 94, Claudio associou-se à Qualis, empresa que lançou na época um plano de saúde holístico. "Nossa idéia era oferecer ao cliente um complemento dos planos tradicionais", explica o pediatra e homeopata Nicolas Schor, 32, um dos sócios da empresa.
Por holístico entenda-se uma visão global do indivíduo. Com um cardápio de 45 especialidades médicas, o plano pretende proporcionar ao associado o acesso a diferentes formas de cura e prevenção de doenças.
Além de oferecer especialidades conhecidas como odontologia, acupuntura, homeopatia, fisioterapia e fonoaudiologia, a Qualis conta com vários tipos de terapia e de técnicas corporais. Algumas têm nomes pomposos como o rebirthing, que nada mais é do que reaprender a respirar. O plano dá ainda descontos em associações, clínicas, farmácias e até em um hotel.
Uma das grandes vantagens do convênio é ser familiar. Além de incluir os filhos como dependentes, o associado pode inscrever os pais e até os sogros. O preço é o dobro, R$ 20 mensais contra R$ 10 do plano individual. É por isso que o número de associados -1.400- é subestimado. "Se contarmos que cada titular coloca de quatro a cinco pessoas no plano, temos em torno de 5.000 a 6.000 associados", diz Nicolas.
Preço vantajoso
Outra novidade é que o paciente paga direto ao médico, que não precisa esperar um mês para receber do convênio. O preço da consulta também é vantajoso: R$ 36 contra uma média de R$ 100 cobrada por médicos particulares.
Por enquanto, a Qualis atende apenas a cidade de São Paulo e o ABC. Segundo Nicolas, há interesse em expandir o plano para o Brasil no médio prazo. A única ressalva é que não há como montar um convênio desses fora dos grandes centros urbanos. "É impossível encontrar profissionais de várias especialidades em cidades pequenas", justifica.
Como a empresa alega não ter verbas para publicidade, a principal forma de divulgação ainda é o boca-a-boca. "Às vezes, alugamos alguns mailings e enviamos correspondência para captar usuários potenciais", afirma Nicolas. Fora isso, fazem promoções em farmácias, lojas e clínicas especializadas.
"Não é esotérico"
Mas quem procura esse tipo de tratamento alternativo? Pesquisa feita pela Qualis no início do ano passado junto a 236 associados revela dados interessantes. A renda familiar média, excetuando-se os extremos, é de R$ 2.693. A maioria (76%) mora em casa própria, possui curso universitário (62,79%) e viaja para o exterior (25%).
"É gente que se cuida", diz Nicolas. As especialidades mais procuradas são homeopatia (21%), terapia (19%), massagem e terapia corporal (18%), acupuntura (16%), reeducação postural global (5%) e odontologia (4%).
A maior parte prefere ir ao cinema (88%) e gosta de comida italiana (27,9%). A culinária japonesa, curiosamente, aparece em segundo lugar (23,2%).
Nicolas faz questão de dizer que o plano da Qualis não é esotérico. "É uma filosofia de prevenção e aprimoramento da qualidade de vida em saúde." Também gosta de frisar que não quer competir com os convênios de saúde tradicionais como Amil ou Golden Cross. "Há espaço para todo mundo. Nosso plano é um plus, um complemento." Ele acha até que, se essa tendência se universalizasse, os convênios teriam menos despesas.

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