São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 1996
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País cansou da "politicalha", diz FHC

OTÁVIO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A PALERMO

Em breve passagem por Palermo, na Sicília (Itália), o presidente Fernando Henrique Cardoso negou-se ontem a revelar qual será a proposta do governo para o reajuste do salário mínimo.
Questionado pela Folha, o presidente respondeu: "Pergunte ao ministro da Fazenda". Após a ponderação de que o ministro Pedro Malan não fazia parte da comitiva, FHC evitou o assunto.
"O reajuste do salário mínimo é em maio, e nós estamos em janeiro. É muito cedo para tratar disso." O presidente chegou a Palermo às 22h45 (19h45 em Brasília) de sábado, para escala técnica em seu vôo de volta da Índia. O avião atrasou uma hora e meia devido a ventos contrários de até 150 km/h.
Às 12h de ontem (9h em Brasília), FHC e sua comitiva voaram para Natal (RN), de onde seguiriam para Brasília, com chegada prevista para 20h30 locais.
Durante sua estada de 13 horas na Sicília, o presidente evitou assuntos ligados à política e à economia do Brasil. Bem-humorado, FHC visitou igrejas, cumprimentou a população e experimentou as delícias da culinária siciliana.
No sábado, após dez horas de vôo, o presidente jantou na tratoria À Cuccagna, com o embaixador do Brasil em Roma, Paulo Pires do Rio, e autoridades locais.
Durante o jantar, FHC conversou por telefone com o vice-presidente Marco Maciel. A assessora Ana Tavares não revelou o conteúdo da conversa, mas, segundo ela, foi um "telefonema rápido".
Por volta da 1h20 de domingo, FHC chegou ao Grande Hotel Villa Igiea, palácio construído em 1908 com vista para a baía de Palermo, que já hospedou reis da Inglaterra, Dinamarca e Suécia.
O presidente acordou cedo. Às 9h (6h em Brasília), iniciou seu passeio turístico, com uma visita ao Palácio dos Normandos, sede da Assembléia Regional Siciliana.
Recepcionado pelo presidente da assembléia, Angelo Capitummeno, e pelo vice-prefeito de Palermo, Fabio Constantini, FHC conheceu a capela Palatina. Construída em 1130 e coberta de ouro e de mosaicos, a igreja reúne estilos normando, bizantino e árabe.
Diante da capela, FHC não se conteve e disse a seus assessores: "Se lembrarmos de minha capelinha lá, uma coisa tão modesta".
Pouco antes das 10h, o cortejo presidencial, composto de 16 carros, inclusive vários da polícia, dirigiu-se à cidade de Monreale, localizada a 10 km de Palermo.
Guiado pelo prefeito Salvino Caputo, FHC visitou a catedral da cidade, que possui uma coleção de objetos de arte sacra, inclusive um relicário que guarda um cordão de Santo Tomás de Aquino.
Ao passear claustro, FHC voltou a sentir uma ponta de inveja: "Quisera eu ter um lugar como esse para andar e meditar", disse.
A atmosfera das sacristias inspirou FHC a voltar ao tema da ética da solidariedade, assunto de seu discurso de sábado na Índia. Ele contou como pretende aplicar sua teoria na prática. "Não é o governo que acaba com a pobreza. É o conjunto do país", disse.
Segundo ele, o governo está fazendo sua parte com o programa Comunidade Solidária, que objetiva mobilizar a sociedade para que enfrente seus problemas com "força, compreensão e ética".
"Ética não quer dizer somente bom comportamento, mas um comportamento altruístico. É dar de si para o outro", disse.
Para FHC, a sociedade brasileira está cansada de "politicalha e fofoca". "Há uma consciência de que temos de resolver nossos problemas", afirmou.
FHC também elogiou a solidariedade demonstrada pelo povo siciliano. "Parece que a gente está em casa. Eles são simpáticos, apertam nossa mão, não se paga o café... É uma maravilha."

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