São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 1996 |
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Sem-terra decidem intensificar confronto
GEORGE ALONSO
A decisão foi tomada pelos dirigentes da entidade no 8º Encontro da Direção Nacional do MST, encerrado sábado em Salvador (BA). "O presidente Fernando Henrique Cardoso diz tem que um programa e vai assentar 60 mil famílias em 1996. Vamos apresentar as 60 mil famílias acampadas", disse o dirigente Enio Bohnenberger. Outras maneiras de luta, menos conflituosas também foram aprovadas. Vão servir como ações complementares na divulgação do problema fundiário brasileiro. Entre essas novas ações está a realização articulada da "Grande Marcha" às capitais em todos os 21 Estados e Brasília -onde o MST está organizado. A data de chegada já foi definida: 10 de abril. O início ainda será definido, em função dos diferentes graus de organização do MST por Estado. As lideranças conseguiram assim acomodar as divergências internas de opinião e, ao mesmo tempo, ampliar o leque de suas ações pela reforma no campo. Sem as invasões, o MST acredita que assinaria seu atestado de óbito. Por duas razões: 1) perda de poder de pressão, já que o governo "só age" atiçado pelos eletrochoques da entidade; 2) correria o risco de cair no descrédito junto às famílias sem terra, diante da falta de resultados e perspectivas. "Em 12 anos, as ocupações caracterizaram o movimento. E foram elas que garantiram o pouco que foi feito, o assentamento de 140 mil famílias.", disse o dirigente Valmir Assunção. Por outro flanco, as ações mais amenas devem responder à necessidade do MST ganhar maior simpatia nos centros urbanos. As marchas nas cidades buscariam o apoio dos sindicatos e da classe média. Vão chamar a atenção para o desemprego, com ajuda de PT e CUT, basicamente. Os sem-terra devem, então, oscilar entre atos mais duros -como bloqueios temporários de rodovias- e gestos de apelo emocional, como instalação de escolas em rodovias e até greve de fome. O MST se diz aberto a negociações. Anunciou que já foi pedida audiência com FHC para 13 de fevereiro. Vai cobrar compromissos assumidos pelo governo de aprovar no Congresso leis que agilizam a desapropriação de terras e que impedem despejos violentos. "E vamos cobrar a dívida que ele tem conosco: 31 mil pessoas acampadas", disse Bohnenberger. O MST discutiu também suas debilidades de organização e decidiu tornar mais eficiente a cobrança de 1% da produção por família assentada -verba usada para financiar suas ações. Resolveu ainda investir na formação escolar de seus quadros, "já que toda hora estamos negociando com o governo, precisamos de gente capacitada", disse Assunção. O líder dos sem-terra no Pontal do Paranapanema (SP), José Rainha, foi eleito em Salvador (BA) para integrar o colegiado de 21 membros da direção nacional do MST. Rainha está foragido desde a decretação de sua prisão preventiva na última quinta-feira. Texto Anterior: Dinheiro só mudou de cor, diz motorista Próximo Texto: MST vai ter ala no Carnaval Índice |
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