São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dinheiro só mudou de cor, diz motorista

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Pai e filho, Josué Barbosa, 42, e Jânio Carvalho Santos, 17, têm a mesma visão pessimista sobre o futuro do país: a situação continuará a mesma, especialmente para os menos favorecidos.
"Quem é rico é rico, quem é pobre é pobre", diz Jânio.
Em seu cotidiano, o país das oportunidades se transforma no país da exclusão e da imobilidade: "Se continuar do jeito que vai, o Brasil não tem jeito, não", diz.
Para Jânio, nada mudou com o Plano Real -só a cor do dinheiro. "A sobrevivência do povo está cada vez mais difícil. Em cada lugar, a gente vê uma dúzia de pessoas sem condições de trabalho e sem condições de moradia."
Eleitor de Luiz Inácio Lula da Silva, Josué afirma que a situação só vai mudar quando o país tiver governantes preocupados com a questão social -o que, segundo ele, não é o caso do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Motorista de ônibus, Josué ganha R$ 608 por mês. Tem uma companheira e sete filhos.
"Falta tudo neste país. A gente que é pobre quer manter o filho em escola boa, mas não pode pagar a mensalidade."
Jânio faz o primeiro colegial em uma escola pública e é categórico: "Eu não sou otimista não. Ou vai dizer que essa vida nossa é boa?"
Para ajudar a família, Jânio vende cervejas e refrigerantes na rua, atividade que lhe rende, em média, R$ 200 por mês.
Seu pai, Josué, afirma que o único mérito do Plano Real foi ter reduzido a inflação.
O dinheiro, segundo ele, ficou mais difícil, principalmente para as pessoas de baixa renda. "Para o rico, sempre tem um jeito", diz.

Texto Anterior: Ex-office boy vira diretor de fábrica em SP
Próximo Texto: Sem-terra decidem intensificar confronto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.