São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 1996
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Patricinhas esnobam título sem perder pose

ISABELLE SOMMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Elas adoram usar roupas de grife, fofocar com as amigas, ver e ser vistas. E, finalmente, depois de grunges, desajustados e simples mortais, as patricinhas ganham seu lugar no cinema.
"As Patricinhas de Beverly Hills", com Alicia Silverstone, 19, chegou para que, no mínimo, essa turma tenha algo para ver no cinema sem sangue, tiros ou enredos muito complexos.
O filme estreou em São Paulo na semana passada. Como no cinema, as patricinhas de verdade costumam desfilar nos corredores dos shoppings locais, passam horas com o nariz nas vitrines, gastam o dinheiro do pai e tagarelam em celulares.
Se alguém ainda tiver dúvida se a tal é da turma ou não, basta uma negativa: uma patricinha nunca, jamais admite pertencer à "patrilândia".
"Eu as odeio. Sou da geração saúde", se defende Elaine Mendes de Sá, 23, enquanto come uma fatia de bolo na praça de alimentação do shopping Paulista.
Elaine faz parte do clube das consumidoras impulsivas, como as meninas da tribo que tanto odeia. "Gostei, comprei", resume ela.
Os principais alvos da patrícias, atualmente, são calças jeans de etiquetas famosas (e bem caras) e perfumes de marcas importadas.
Que o diga a gerente da loja Zoomp do shopping Morumbi, Paula Regina da Silva, 27. Ela atesta que as roupas prediletas delas são os jeans justos de cós baixo.
"Elas têm um estilo próprio e não saem muito daquilo. Se não tiver o que elas querem, não levam", afirma a gerente.
Mas a exigência tem um preço, e quem paga o pato são os pais. Para comprar roupas, Andrea da Costa Zappia, 14, vai com o seu a um dos dois shoppings de Ribeirão Preto (SP), cidade onde mora, para rechear o guarda-roupa.
Obviamente, Andrea também não admite pertencer ao clube das patricinhas tupiniquins. "Sou uma pessoa que se veste de acordo minha personalidade", se define a garota, que citou dez etiquetas prediletas sem hesitar.
Uma das mencionadas é a M.Officer, preferida por dez entre dez sócias da "patrilândia". Segundo o proprietário da grife, Carlos Miele, 32, 75% do público consumidor é feminino, com predominância na faixa de 15 a 25 anos, das classes A e B.
Segundo Rosely de Souza, 33, supervisora de varejo da Zoomp, essas adolescentes valorizam o corpo com calças justas e gostam de exibir a barriga.
Outro dos mandamentos da tribo, ou melhor, roda é "nunca andarás em bando". "Elas geralmente andam em pares ou, no máximo, trios", diz o gerente de marketing do shopping Jardim Sul, Wilson Franciscão, 39.
Para ele, as patricinhas "dão um colorido aos corredores do shopping".
Segundo a gerente de marketing do shopping, Márcia Saad, 29, as patricinhas formam a maior parte dos frequentadores habituais.
"Elas consomem bem. São vaidosas e compram principalmente roupas básicas, como jeans, camisetas e vestidinhos", diz ela.
Mas há também quem tema o rótulo. Segundo a assessoria de imprensa do Iguatemi, o shopping não quer ter seu nome relacionado às garotas. Nem por isso, elas deixam de desfilar diariamente em seus corredores.

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