São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 1996
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Escola produz filmes dirigidos pelos alunos

Estudantes contam histórias baseadas em suas vidas

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Gostar de alguém mais velho acontece com muitos adolescentes, mas poucos podem passar esta experiência por meio do cinema.
A estudante Gabriela Mancini, 16, teve essa chance ao dirigir o curta-metragem "Nas Garras do Primeiro Amor".
O filme, baseado em um conto do escritor mineiro Fernando Sabino, narra a história de um menino de oito anos que se apaixona pela prima de 19 anos.
Segundo Gabriela, a história pode acontecer com qualquer um. "Gostar de primo acontece muito." Ela diz que, quando tinha 13 anos, apaixonou-se por um colega do irmão, seis anos mais velho.
Como o personagem do filme, ela só desistiu da paixão ao ver o rapaz com a namorada da idade dele. "Aí eu saquei que era melhor para ele assim."
Gabriela é uma das 40 estudantes do colégio Promove, de Belo Horizonte (MG), que puderam fazer um filme pela primeira vez em suas vidas.
Eles se dividiram em sete equipes, com cinco ou seis alunos, e cada uma fez um curta-metragem, filmado em negativo 16 mm.
Todas as despesas com equipamento e negativos, além de um curso de cinema para os estudantes, foram pagas pelo colégio. O custo total saiu em torno de R$ 15 mil. A única exigência era que os curtas fossem baseados em textos literários.
Mariana Henrique Azeredo, 17, porém, diz que um texto escrito por outra pessoa não poderia transmitir o que ela queria dizer por meio do cinema.
Sua equipe só conseguiu filmar um roteiro original depois de insistir muito. O curta se chama "Easy Rider Sem Destino - Parte 2", mas ficou conhecido como "o filme das gordinhas", entre os alunos do colégio.
É um filme cômico sobre as dificuldades de uma mulher para conseguir carona na beira de uma estrada, porque é gorda.
Mariana, medindo 1,75 m e pesando 67 kg, diz que tem medo de engordar mais e ser discriminada por causa disso, como a protagonista de seu filme. "Por enquanto, eu fico numa boa".
A história foi inspirada em um caso que aconteceu com Mariana e uma amiga, durante as férias que ela passou no litoral de São Paulo.
"Estávamos esperando o ônibus em uma praia e vimos duas meninas de biquíni pedindo carona. O primeiro carro parou, elas foram embora e nós ficamos esperando pelo ônibus", diz Mariana.
Como na vida real, o curta mostra também duas meninas de biquíni que conseguem fácil uma carona, enquanto a protagonista fica só olhando. Mas as duas meninas esbeltas que tinham sido contatadas pela produção não apareceram e as personagens foram interpretadas pela própria equipe.
Segundo a assistente de produção Simone Rosa Lessa, 17, que aparece no filme de biquíni, o resultado final não ficou prejudicado, porque ela é "menos gorda que a atriz principal".
"Conto Policial", da diretora Ana Luiza Santoro, 17, também é uma paródia bem-humorada do universo do cinema, especificamente, dos filmes de suspense.
Baseado em crônica de Stanislaw Ponte Preta, "Conto Policial" mostra o trabalho de um detetive para desvendar o assassinato de um escritor de livros de terror.
A pista principal são as últimas linhas escritas pela vítima, sobre o ataque misterioso de um monstro. "Queríamos fazer uma comédia porque é mais fácil. Fazer um filme sério é muito mais difícil", diz Ana Luiza.

INFORMAÇÕES: Colégio Promove, tel. (031) 273-7955.

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