São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 1996
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Livro brasileiro custa mais que importado

Variação de preço em edições similares supera 100%

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um brasileiro interessado em ler "O Sorriso do Lagarto", de João Ubaldo Ribeiro, vai pagar pelo livro, em edição normal, com capa de papelão, R$ 27. Um leitor norte-americano pode ter o mesmo texto, em edição de luxo, com capa dura, traduzido para o inglês, por R$ 20,58 (US$ 21).
Disponível no Brasil, a edição luxuosa de "O Sorriso do Lagarto" em inglês sai por R$ 30,45 -apenas R$ 3,45 a mais do que o livro produzido por aqui, apesar de conter no preço custos de tradução, edição luxuosa, papel de melhor qualidade e importação por avião.
Esse caso não é uma exceção. Os mesmos textos, em edições similares, são em geral mais baratos no exterior do que no Brasil. A Folha pesquisou os preços de 15 livros, em edições brasileiras, norte-americanas, inglesas e francesas (veja quadro ao lado).
Exceto em três casos, o mais caro é o livro brasileiro, não importando a língua em que foi escrito o original. A diferença chega a ser tão grande que, em alguns casos, é mais barato comprar um livro importado, com os custos de importação embutidos, do que uma edição brasileira. Em qualquer área.
O manual técnico "Corel Photo-Paint 5 Sem Limites" custa US$ 45, editado pela Sams nos Estados Unidos. Chega ao Brasil importado por R$ 65,25.
Idêntica ao original, a edição brasileira sai por R$ 145, preço 122% superior ao original. Na mesma situação ficam outros manuais técnicos, como "Administração e Marketing" (Philip Kotler), "Princípios de Bioquímica" (Lehninger, Nelson, Cosc) e "Juran's Manual de Controle de Qualidade" (diversos autores).
O "Juran's" sofre no Brasil uma maquiagem editorial. Nos Estados Unidos, publicado num único volume, com capa dura e cerca de mil páginas em papel bíblia, custa US$ 49,50 e chega, importado, por R$ 71,78. O editor nacional dividiu a obra em nove volumes e multiplicou o preço: R$ 274, no total.
A variação dos preços permanece na comparação com as edições estrangeiras no chamado formato B. São livros de capa mole com dimensões semelhantes às dos livros brasileiros.
Nos EUA, França e Inglaterra, são considerados livros de bolso. No Brasil, passam tranquilamente por edições normais -faltam apenas as orelhas da capa. Faltam também vários dólares no preço: custam menos de US$ 15.
O formato B e os livros de bolso propriamente ditos (de dimensões menores) formam o grande filé do mercado editorial no exterior. Os livros ganham uma primeira edição em capa dura. As seguintes saem com formato B ou de bolso, com tiragens maiores e preços (ainda) menores.
Para citar outro exemplo de autor brasileiro, a edição norte-americana de "Dona Flor e seus Dois Maridos" em formato B (Avon Books) custa US$ 11. A edição nacional sai por R$ 17,50.
Na prova das comparações, dois livros brasileiros ficaram abaixo do preço praticado na França: "Espectros de Marx", de Jacques Derrida (R$ 32 contra R$ 26), e "O Caminho de Swan", de Marcel Proust (R$ 24 a R$ 15,70).
"Os Sertões", de Euclides da Cunha, praticamente empatou: R$ 35 no Brasil e R$ 36 na França.

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