São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 1996
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Farrakhan ataca brancos africanos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O mais radical líder negro dos EUA, Louis Farrakhan, encontrou-se ontem com o presidente da África do Sul, Nelson Mandela, o mais famoso líder da oposição ao extinto regime de segregação no país.
Apesar de terem em comum a luta racial, os dois adotaram posturas distintas durante o encontro: Mandela defendeu a tolerância racial e a democracia; Farrakhan atacou os brancos do país.
A visita do controvertido líder do grupo Nação do Islã, que no ano passado reuniu mais de 1 milhão de homens negros no centro de Washington, provocou a ira de lideranças brancas da direita sul-africana, que acusaram Mandela de praticar racismo contra os brancos ao reunir-se com Farrakhan.
Mandela defendeu-se dizendo que já recebeu muitas pessoas com visões diferentes da sua e, por isso, concordou com a visita de Farrakhan. Por isso -e para não criar atritos internacionais-, Mandela, o primeiro presidente negro do país, mostrou-se moderado.
Farrakhan pediu a concessão de terras na África para os negros americanos. Segundo a tese dele, os afro-americanos que foram para os EUA como escravos têm o direito de voltar ao continente e ocupar parte dele. Prisioneiros seriam os primeiros a migrar.
No século passado, esse mesmo princípio foi usado para formar a Libéria (oeste da África), uma nação formada por ex-escravos.
Farrakhan faz uma série de visitas a chefes de Estado africanos. Na semana passada, em Tripoli, prometeu criar uma aliança com o líder da Líbia, Muammar Gaddafi, contra o governo norte-americano.
O Nação do Islã prega a união dos negros contra os brancos americanos e faz duros ataques aos judeus. Apesar desse discurso, Farrakhan disse que o islamismo (religião oficial de seu grupo) desencoraja o racismo e que ele deve ser combatido.
"Os brancos (sul-africanos) ainda não fizeram o suficiente", disse. Farrakhan elogiou, de qualquer forma, os esforços de conciliação.
A visita de Farrakhan a Mandela durou 40 minutos. Sua chegada a Johannesburgo aconteceu com 16 horas de atraso, porque seu avião, que vinha do Zaire, ficou retido devido ao mau tempo. Irritado, ele chamou o vôo fretado de "comédia de erros".
Farrakhan ainda pretende visitar Moçambique, ex-colônia portuguesa, e a Nigéria, cujo governo vem sendo acusado de frequentes desrespeitos aos direitos humanos. A visita dele à África do Sul deve durar três dias e incluir a Cidade do Cabo e Durban.

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