São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 1996
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Paes de Andrade teme uso do 'Diário Oficial' na eleição

Deputado quer que FHC apóie peemedebista ao Planalto

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do PMDB, Paes de Andrade (CE), diz que a liberação dos ministros para a campanha das eleições municipais "pode deteriorar o relacionamento não só do PMDB, mas de outros partidos que dão suporte à governabilidade".
O partido prepara uma Convenção Nacional com temas explosivos para 24 de março. Na pauta, estão temas como a reeleição para presidente, direitos adquiridos, aposentadorias e privatização da Vale do Rio Doce. A posição de Paes é contrária à de FHC em todos os itens.
Ele diz que o PMDB tem um projeto político para 98: eleger o presidente da República. E propõe abertamente que FHC apóie o candidato do partido.
O deputado critica a liberação dos ministros para a eleição. "No regime presidencialista, é muito difícil participar das eleições, subir no palanque e não usar o Diário Oficial".
*
Folha - Há cerca de um mês, quando o sr. fez críticas à relação do PMDB com o governo, alguns deputados chegaram a dizer que o sr. estava louco, que não representava o partido. O sr. reverteu essa situação?
Paes de Andrade - Eu sempre disse que o PMDB estava apoiando o governo. Acrescentava apenas que esse apoio a um presidente que não foi eleito pela nossa legenda não é incondicional. Até porque o apoio incondicional amesquinha o partido.
Não defendi o rompimento com o governo. Disse ao presidente, em cinco encontros, que o PMDB estava oferecendo um suporte maior de governabilidade para o nosso país. Mas não tinha espaço no centro das decisões governamentais. E continua sem espaço. Está na periferia.
Folha - Uma semana após esses encontros, FHC liberou os ministros para a eleição. Como o sr. viu isso?
Paes - Espero que não ocorra nem o uso da máquina e nem a participação abusiva de ministros. A participação pode deteriorar o relacionamento não só do PMDB, mas de outros partidos que dão suporte à governabilidade.
As eleições municipais são apaixonantes, se radicalizam sempre. Ao chegar ao pé do palanque, o ministro terá o constrangimento de receber as reivindicações. Ao subir, o constrangimento será maior, porque poderá estar posta a mesa dos despachos.
No regime presidencialista, é muito difícil participar das eleições, subir no palanque e não usar o "Diário Oficial". E abuso do poder político, em desfavor da liberdade do voto, tem punição prevista no Código Eleitoral. O uso da máquina do governo seria insuportável.
Folha - Na última reunião do partido com FHC, houve a liberação de R$ 115 milhões para o Ministério dos Transportes. O partido cobrava mais verbas para os ministros do PMDB. Já houve avanço nesse ponto, não?
Paes de Andrade - É, avançou. O Odacir (Klein) é um grande ministro, capaz, competente. Mas o orçamento talvez não dê as verbas para realizar um programa mínimo, que projete a imagem do partido que está lá, com o ministro, e do próprio presidente da República.
Folha - O PMDB vai ter candidato a presidente em 98?
Paes - O PMDB tem o seu projeto político. Depende de duas coisas fundamentais. Em primeiro lugar, da unidade do partido. Acredito que o PMDB sairá muito fortalecido desta eleição, com centenas de prefeitos. Aí, teremos novo alento para montar o projeto de poder do partido.
Por outro lado, haverá um outro projeto de poder. A imprensa já deu espaços nobres a uma declaração de um homem pró-governo que dizia que o presidente FHC e as forças que o apóiam tinham um projeto de poder para 30 anos (declarações do ministro Sérgio Motta, das Comunicações).
Com essa declaração, se ela prosperar, o nosso projeto de poder vai se situar numa linha paralela ao projeto do governo. E as paralelas só se encontram no infinito. Até disse ao presidente: quem sabe se, pelos imponderáveis, ou pela sua vontade política, essas paralelas sejam desmanchadas e o projeto do PMDB venha a ser o projeto do governo e o projeto do governo venha a ser o projeto do PMDB. E o presidente da República apóie o candidato do PMDB a presidente.
Folha - O que o sr. pensa da reeleição para presidente?
Paes - Sou frontalmente contra. Trabalharei contra. A reeleição não está na tradição republicana. Vai permitir o abuso do poder político, o uso da máquina. E o pronunciamento popular vai ser viciado. Queremos eleições livres.
Folha - O sr. acha que FHC permitiria o uso da máquina?
Paes - Não. Mas mesmo que se tentasse evitar aqui, quem iria controlar o uso da máquina nos Estados e nos municípios? Na pauta da nossa convenção está a reeleição. E as nossas bases vão falar.
Folha - Qual a sua posição sobre o fim da estabilidade do servidor?
Paes - Não votarei qualquer dispositivo que venha a violar direitos adquiridos.
Folha - Qual a sua posição sobre o Sivam. O contrato com a Raytheon deve ser anulado?
Paes - Deve ser anulado. Esse contrato está ferido de morte. Defendi até a CPI para o Sivam.

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