São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 1996
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Os investimentos no município

LUÍS NASSIF

Há tempos a coluna vem alertando sobre a importância de municípios passarem a atuar na organização da poupança interna, para investimentos em projetos regionais.
Hoje em dia, há um diferencial estrondoso entre taxas de aplicação e de crédito. Tornou-se praticamente proibitivo financiar empreendimentos com capital de empréstimo, a não ser nas linhas de prazos mais longos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O BNDES tem larga tradição de análise setorial. Mas seu know-how concentra-se em setores tradicionais e em empreendimentos já consolidados, especialmente do eixo Rio-São Paulo, com algumas incursões por Santa Catarina.
As empresas regionais têm enorme dificuldade para emplacar projetos de participação de capital devido ao fato de não serem conhecidas, das oportunidades municipais não estarem ao alcance do banco, e do fato de o banco preferir concentrar sua capacidade de análise nos grandes projetos -já que demanda o mesmo esforço dos pequenos.
O melhor caminho para que os recursos do BNDES se irrigassem por toda a economia seria por meio de agências regionais de desenvolvimento, que identificassem as oportunidades de negócios na região, e ajudassem a captar poupança local.
O papel do BNDES estaria na assessoria para a análise de projetos, e no aporte de uma contrapartida de capital. Algumas experiências já foram testadas com sucesso nos municípios de Toledo e Pato Branco, no Paraná.
A edição desta semana do "Guia Financeiro", da "Agência Dinheiro Vivo", conseguiu identificar movimentos significativos principalmente em municípios da região Sul. Mas já há tentativas em andamentos até em Estados como o Espírito Santo.
O modelo é simples. Monta-se um fundo de investimento e vendem-se cotas para cidadãos locais. O lucro será proporcionado pelo faturamento do projeto e por sua própria valorização.
É apenas uma base, que poderá ser bastante aprimorada à medida que se integre ao processo o BNDES (com sua expertise de avaliação de projetos) e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) -montando a base gerencial.
A publicação escolheu os seguintes exemplos:
1) Em Umuarama, no Paraná, montou-se um clube de investidores em torno de uma sociedade anônima de capital fechado.
O município identifica os nichos de mercado e faz o projeto que, posteriormente, é submetido à avaliação de associações de empresários e trabalhadores.
Oferece também o terreno e infra-estrutura. Até agora foram montados um abatedouro de aves e uma fábrica de sacarias. Para o abatedouro foram vendidas 100 cotas de R$ 10 mil cada uma.
O retorno do investimento é estimado em cinco anos, mas o cotista já começa o seu projeto como proprietário de uma parte da área cedida.
2) Em Fernandópolis, interior de São Paulo, um modelo semelhante permitiu a construção do primeiro shopping center da cidade.
O investimento foi de R$ 11 milhões, dividido entre 31 cotistas, também empresários ou profissionais liberais que formaram uma sociedade anônima com esta finalidade.
Cada um deles terá direito à uma área do empreendimento. A expectativa de retorno do capital investido é de quatro a cinco anos.
3) No Rio Grande do Sul estão sendo montadas empresas de participação comunitária. Somente neste início do ano foram registradas 14.
Inicialmente, os grupos organizam-se em torno da terceirização de serviços de limpeza urbana, reciclagem de lixo ou calçamentos.
Os projetos têm vingado principalmente em áreas onde o cooperativismo na área rural é forte, um know-how que vem facilitando a formação destes grupos.
O problema
O ministro Pedro Malan informa que, enquanto presidente do Banco Central, não só não participou como sequer foi informado dos termos do acordo firmado com o Econômico -que permitiu ao banco baiano maquiar seus resultados, em troca de um plano de capitalização de longo prazo.
O problema é justamente este: como foi possível ao presidente do BC alhear-se a uma questão que -como se conferiu mais tarde- colocou em risco a própria estabilidade do sistema financeiro nacional.

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