São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 1996
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'New York' abandona a leveza

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Sobre a carreira do cineasta Martin Scorsese, é costumeiro afirmar que foi construída na oscilação entre a obra de arte e o indisfarçável tom comercial.
Como então situar, entre esses dois pólos, sua tentativa de recriar a arte do musical em "'New York, New York" (TNT, 22h)?
Produzido em 1977, em pleno império da "disco-music" em todo o planeta, Scorsese rejeitava seu presente e contava uma história de amor entre uma cantora e uma saxofonista na Nova York da segunda metade da década de 40.
Assim, sua história é tratada em três diferentes níveis: temos, em primeiro plano, o conturbado relacionamento entre seus principais personagens (Liza Minnelli e Robert De Niro), que passam pelas provações comuns, como a infidelidade, de um casamento.
Em seguida seu filme compõe uma espécie de painel histórico. Vemos uma cidade esperançosa com o fim da Segunda Guerra e que passa também por um outro tipo de transformação, essencial para os personagens de Scorsese.
O tempo em que vivem é também o momento do início do declínio das "big-bands" americanas, que começam a ceder espaço para a experimentação e a improvisação do "be-bop".
Um processo que traz o indivíduo para linha de frente, em lugar do coletivo. Algo que explica em parte o egocentrismo e o desconforto com o mundo do personagem de De Niro.
E temos ainda, por fim, o desejo de Scorsese em tirar de seu musical qualquer ar de leveza e de fantástico, qualidades quase inerentes ao gênero em sua forma clássica.
O resultado é um filme que talvez esteja um pouco longe de resolver cada idéia apresentada, deixando ao espectador um certo ar de excesso. Mas há também a marca da genialidade de seu diretor.
O que significa possuir, ao menos por momentos, o que existe de mais estonteante no cinema: a mais pura beleza.

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