São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 1996
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Choque entre polícia e agricultores fere 53

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Pelotões de choque da Brigada Militar (a PM gaúcha) usaram ontem bombas de efeito moral, cassetetes e cães para retirar pequenos agricultores do prédio da delegacia regional do Ministério da Fazenda, em Porto Alegre, que pediam ajuda devido à seca. Cinquenta e três pessoas ficaram feridas.
Segundo o Hospital de Pronto Socorro, 38 agricultores e 15 soldados foram feridos. Apenas os agricultores João Carlos Bueno e Luis Carlos Cândido ficaram em observação.
O comandante do policiamento da capital, coronel Mauro Osório, disse que os agricultores atiraram pedras e paus contra os soldados.
Os pequenos agricultores, que perderam suas lavouras devido à estiagem, ocuparam o saguão do prédio por volta das 13h, em mais um ato de pressão para o atendimento de suas reivindicações junto aos governos estadual e federal.
Eles queriam uma audiência com o representante do Ministério da Fazenda no Estado.
Às 14h, dois pelotões de choque (70 soldados) começaram a ação de retirada dos cerca de 350 agricultores que estavam no prédio.
Incluindo as pessoas que estavam do lado de fora do edifício, havia mais de 1.000 agricultores e 200 policiais, no total.
O governador Antônio Britto (PMDB) relatou o conflito, por telefone, ao ministro-chefe da Casa Civil do governo federal, Clóvis Carvalho. Este, segundo o chefe da Casa Civil do governo estadual, Nélson Proença, disse a Britto que iria determinar a suspensão das negociações com os agricultores.
Anteontem, Britto havia se recusado a receber uma comissão dos pequenos agricultores, alegando que tinha negociado com eles na semana passada. Frustrados, os agricultores haviam prometido "ações duras" para ontem.
O agricultor Rosnei Germiniani, de Ibiaça (309 km ao norte de Porto Alegre), disse, aludindo ao conflito, que o governador tratou os manifestantes "como nós não tratamos os animais lá fora".
Eloir Griseli, um dos coordenadores do movimento, declarou que o ato era "pacífico" e que a Brigada Militar chegou "batendo".
O coronel Osório afirmou que a BM foi recebida no local "de forma agressiva, com pedradas e o uso de bastões".
O tenente-coronel PM, Lauri Schroeder, um dos comandantes da operação no local, disse que socorreu um agricultor com "um ferimento grande na cabeça".
Com a ação da PM, os pequenos agricultores, originários de diversas regiões do Estado, saíram para o pátio da Câmara de Vereadores, que fica ao lado, e depois para o parque da Harmonia, na mesma região central da cidade.
Os agricultores devem continuar mobilizados até o atendimento de suas reivindicações: liberação pelo governo federal de R$ 1.500,00 por família a fundo perdido e anistia, pelo governo estadual, na devolução de produtos agrícolas trocados por sementes e no pagamento de um fundo de apoio aos pequenos estabelecimentos rurais.

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