São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 1996
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'Teles' renovam contratos sem licitação

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quase todas as empresas estatais de telefonia, as chamadas "teles", renovaram sem licitação contratos para compra de equipamentos de telefonia celular a partir de novembro do ano passado.
O valor somado desses contratos excede R$ 1 bilhão. A Folha publica hoje os valores referentes à Telesp, empresa responsável pelo Estado de São Paulo.
Os contratos da Telesp foram renovados com as empresas NEC, Equitel e SID. O valor total é de R$ 722,6 milhões.
Atualmente, apenas as empresas estatais fornecem serviços de telefonia celular no Brasil. Para isso, compram equipamentos de empresas multinacionais especializadas.
"Quase todas as empresas renovaram os seus contratos", disse ontem o presidente da Telebrás, Fernando Xavier Ferreira. Ele não quis fornecer os números referentes aos contratos renovados.
A Telebrás é subordinada ao ministro das Comunicações, Sérgio Motta (PSDB).
Sem alarde, o ministério pediu um parecer sobre o assunto à AGU (Advocacia Geral da União).
A AGU é um órgão de assessoramento jurídico da Presidência da República. Em 17 de novembro do ano passado, o "Diário Oficial da União" publicou parecer da AGU favorável à tese do governo.
Com o parecer, a Telesp renovou os contratos em dezembro.
Segundo o parecer da AGU, foi verificada a "inexigibilidade de licitação" na contratação de equipamentos para expansão do sistema. O argumento é que não há compatibilidade técnica entre equipamentos de empresas diferentes.
Como funciona
Um sistema de telefonia celular é composto, basicamente, de uma CCC (Central de Comutação e Controle) e de estações de rádio que emitem e captam os sinais dos aparelhos de telefone.
Segundo o argumento da Telebrás, enquanto não está esgotada a capacidade de uma CCC, é necessário que as expansões do sistema sejam com equipamentos de um mesmo fabricante.
"É que o 'software' utilizado para transmitir os sinais das estações de rádio para a CCC são próprios de cada fabricante", diz Xavier Ferreira.
Um exemplo mais fácil seria o de uma rede de computadores. Na hora de comprar mais terminais, pela lógica da Telebrás, uma determinada empresa estaria obrigada a adquirir sempre material do fornecedor inicial.
"Um sistema de telefonia celular é muito mais sofisticado do que o de computadores", diz Xavier Ferreira, que discorda do exemplo proposto pela Folha.
Para ele, mesmo com um contrato de R$ 722,6 milhões, a Telesp não conseguiria fornecedor diferente do original.
Apesar de todas as supostas limitações técnicas para troca de fornecedor dos equipamentos, a Folha perguntou para o presidente da Telesp, Carlos Eduardo Sampaio Dória, se não seria melhor ter feito licitação.
Dória respondeu: "Teoricamente, sim. Na prática, não. Porque uma nova licitação, pela importância e pelo vulto do mercado de São Paulo, demandaria muito mais tempo e, eventualmente, até complicações judiciais do que uma contratação direta".

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