São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 1996
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Saudades da Patrícia

JANIO DE FREITAS

O Brasil está sob o risco de nova Operação Patrícia, aquela manobra com preços e estoque de café, patrocinada pelo governo Sarney, que deu enorme prejuízo ao país e lucros maravilhosos aos que estavam na manobra (nem todos do mercado de café).
Os preços internacionais do café estão subindo e o governo tem grande estoque. Uma jogada com este café renderia fortunas, outra vez, aos que tenham informação prévia. Nem todos seriam os mesmos: novo governo, gente nova na praça. E, mais que nova, ansiosa por uma boa ocasião.
Uma solução evitada
A "minoria que ganha mais de R$ 830" foi responsabilizada pelo presidente, no seu sempre engraçado programa radiofônico, por estar a Previdência incapacitada para cumprir sua finalidade. Não mencionou o fato de que essa minoria é a mesma de sempre, mas a Previdência não caía em déficit há dez anos e voltou a tê-lo, por ora estimado em mais de R$ 200 milhões, no governo modernizador de Fernando Henrique. Deu a sua solução, porém, para a minoria nefasta:
"Quem ganha mais de R$ 830 deveria pagar um pouco mais à Previdência. Mas pagar como? Pagando um plano de previdência complementar."
Muito bem, mas por que não pagar mais à própria Previdência oficial? E por que o governo, que fixa os percentuais de pagamento em função das faixas salariais, não pensou nem pensa em aumentar mais a cobrança, na proporção em que seria (ou será) paga a previdência complementar?
Isto criaria um problema para o governo social-democrata: o acréscimo iria fortalecer os cofres da Previdência oficial, e não, de mão beijada, para a previdência complementar, que é como o presidente, por pudor, prefere sempre chamar a previdência privada.
Fechadores
Abertura para as importações, globalização, fim das restrições à presença nos mercados internacionais, nada como um governo consciente do seu tempo. Mas os empecilhos de repente postos à importação de carros, mesmo contrariando acordo internacional assinado pelo Brasil, são muito pouco em comparação com certas idéias que emergem na chamada equipe econômica. Não falta muito para que a tendência das importações, justificada pelo preço dos produtos brasileiros, alcance os limites do pânico mal contido no governo.
Não fosse a traulitada que o governo está levando da Organização Mundial de Comércio, pela restrição às importações de carros, já estaria em vigor uma fechadura daquelas. E a OMC ainda quer a revisão de outras restrições menores, para que o Brasil respeite o acordo de que é parte.
Sem dúvida
Do Malan funcionário-professor ao Malan ministro, do Malan fino ao Malan grã-fino, a distância é grande. Mesmo o atual Malan tem motivos, no entanto, para indignar-se com as insinuações, ou afirmações mesmo, de que se comprometeu com proteções a ilegalidades do Banco Econômico.
"Sou funcionário há 30 anos", protesta ele, "e nunca alguém pôde me acusar de desonestidade, falta de honradez ou improbidade." Não só para rimar, pode-se dizer que é verdade.

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