São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 1996
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Instituto da Mulher da USP

JOSÉ ARISTODEMO PINOTTI

A mortalidade materna no estado de São Paulo está em torno de 110 por 100 mil -índice 13 vezes maior que o de Portugal. Poderíamos reduzi-la em dez vezes, com assistência interpartal e puerperalidade adequadas, atendendo pré-natal e partos de maior risco em hospitais mais complexos e oferecendo ainda, planejamento familiar.
Perdemos, também, por ano, 2.000 mulheres por câncer de mama em São Paulo -70% dessas mortes poderiam ser evitadas e 80% das mamas conservadas, se tivéssemos programas de diagnóstico precoce e hospitais adequadamente equipados.
Os ataques que o Instituto da Mulher da USP vem sofrendo, incluindo falácias sobre seu custo e tentando esconder criminosamente sua necessidade, têm, na discriminação da mulher, a sua raiz. É uma postura cultural, conservadora, antropológica ou mesmo filogenética. A mulher é tratada como cidadã de segunda classe, com múltiplos deveres e poucos direitos. Para ela resta também uma saúde de segunda classe.
O Hospital da Mulher existe em inúmeros países. O Centro de Referência da Mulher, instalado provisoriamente no Hospital Pérola Byington, atende, com dignidade e eficiência, 2.500 mulheres por dia e faz 40 cirurgias por mês e não chega, com isso, a satisfazer 4% da demanda.
Há poucos anos, em Cingapura, em uma assembléia onde estavam representados 85% dos países do mundo, se aprovou, por unanimidade, resolução sobre a saúde da mulher, preparada pela OMS. Essa aprovação foi referendada na Conferência Mundial de população do Cairo e na Conferência da Mulher em Pequim, ambas em 95.
O Instituto da Mulher da USP objetiva atender a demanda crescente de ações de maior complexidade, geradas pela expansão do Paism, permitindo que as mulheres mais pobres tenham acesso aos vários níveis do sistema.
Nos planos conceitual e pragmático, as coisas são tão óbvias que me sinto acaciano ao reafirmá-las. Restam, para explicar os ataques, a questão política -que precisa amadurecer no processo democrático, permitindo a viabilização de projetos importantes para a população, e a questão pessoal. Serei, como professor de Ginecologia, um dos diretores -não o único- e estou pronto a abdicar dessa posição, se necessário for, para que ele se concretize. Meu interesse é ideológico e não pessoal.
É hora de pensar na mulher pobre brasileira, na sua família e no desenvolvimento da USP, como instituição. Coisas tão excepcionalmente importantes deveriam sempre permitir às pessoas superar querelas partidárias, políticas e pessoais.

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