São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 1996
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Advogados condenam tática utilizada

CLÁUDIA MATTOS
DA SUCURSAL DO RIO

Advogados criminalistas ouvidos pela Folha condenaram a tática empregada pela polícia para negociar a libertação do estudante Rodrigo Lanna Neto e disseram ter visto abuso de autoridade por parte dos policiais.
Para o advogado criminalista Técio Lins e Silva, a decisão da polícia de negociar a troca do sequestrado Rodrigo Lanna Neto por Suzana, mulher de um dos sequestradores, foi criminosa.
"Nesse caso, ou houve prevaricação, ou abuso de autoridade, dois crimes previstos em lei."
Técio acredita que, se a polícia tinha motivos para prender a mulher do sequestrador e a soltou, houve crime de prevaricação.
No caso de a polícia não ter motivos para prendê-la, mas, mesmo assim, tê-la utilizado na negociação com os sequestradores, o advogado vê abuso de autoridade.
"A polícia só pode prender uma pessoa se tiver autorização de um juiz ou se a pessoa for pega em flagrante delito. Sozinha, ela não pode determinar a prisão de ninguém", disse Técio.
Para ele, a atuação da polícia no caso foi irregular. "O que não pode é a polícia agir como bandido."
O criminalista Evaristo de Moraes Filho também acredita que, se Suzana foi usada como argumento na negociação para a libertação de Lanna Neto, a polícia cometeu abuso de autoridade. "É crime cercear a liberdade de ir e vir de alguém sem motivos para isto."
Moraes Filho compara a estratégia de negociação utilizada pela polícia com aquela aplicada durante o regime militar.
"No regime militar, eles agiam assim. Eles prendiam o filho para forçar o pai a se entregar", disse.
O advogado acredita que a única hipótese aceitável neste caso seria a polícia ter ido à casa do sequestrador para procurá-lo.
"Se a polícia foi lá e ficou na casa dela esperando pelo sequestrador chegar para prendê-lo é um procedimento normal."
Para o chefe de Polícia Civil do Rio, delegado Hélio Luz, a polícia não prevaricou nem abusou de sua autoridade. "Pelo que eu entendi, a polícia cercou a área e o bandido, acuado, resolveu libertar o sequestrado."
Luz disse que a ação foi planejada e executada pela polícia de Minas. "Tudo o que a DAS fez foi emprestar dois caras para ajudar na localização da área."

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