São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 1996
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Polícia troca mulher por sequestrado

DA SUCURSAL DO RIO

O estudante mineiro Rodrigo Lanna Neto, 21, foi libertado ontem no Rio em troca da mulher de um dos sequestradores. A troca foi acertada por telefone entre o sequestrador e a polícia, que estava ocupando a casa dele.
Filho do dono da maior tecelagem da Zona da Mata, Lanna Neto, sequestrado em Cataguases (MG), foi solto ontem de madrugada, na Baixada Fluminense, após operação conjunta das polícias mineira e fluminense.
Segundo a versão apresentada pelo diretor do Departamento de Operações Especiais de Minas, João Reis, a troca foi proposta pelo sequestrador, Osmar Elias Barbosa, em ligação para o telefone celular de um dos policiais.
Um policial que participou da operação, porém, afirmou ter partido dos policiais a proposta da troca da mulher de Barbosa, Suzana, pelo estudante.
Os policiais, em tom enérgico, teriam ameaçado prender Suzana por participação no sequestro, se Lanna Neto não fosse solto. Participaram da operação 20 homens do departamento e dois policiais fluminenses da DAS (Divisão Anti-Sequestro).
A polícia chegou à casa de Barbosa com informações obtidas a partir da prisão, na segunda, em Cataguases, de dois acusados de participação no sequestro: Moisés Januário da Silva e Gésio Dias Ferraz.
Anteontem, por volta das 20h, os policiais chegaram à casa de Barbosa, na favela de Filgueiras, em Duque de Caxias. A casa foi cercada, mas a polícia encontrou só a mulher de Barbosa, Suzana, e a filha do casal, de um mês.
Em meio ao tumulto, um garoto teria aparecido, dizendo conhecer amigos de Barbosa. Policiais deram-lhe o número de três telefones celulares, pedindo que mandasse um recado: queriam negociar com Barbosa a libertação do estudante.
Reis afirmou que o próprio Barbosa propôs a libertação do estudante em troca da liberdade de Suzana. Segundo Reis, ela acabaria sendo solta, porque não havia provas de seu envolvimento no sequestro.
Após três telefonemas, por volta das 3h30 de ontem, o estudante foi deixado às margens da rodovia Rio-Petrópolis, próximo a um posto desativado de pedágio, em região de Duque de Caxias.
Lanna Neto, em entrevista na Chefia de Polícia Civil, afirmou que se mudará do Rio, pois sua vida agora "vai ficar muito divulga da" e ele não pretende mais "correr outro risco" de sequestro.
Estudante de administração no Rio, Lanna Neto estava de férias na casa da família, em Cataguases. O pai, Rodrigo Lanna Filho, é dono da Companhia Manufatura de Tecidos de Algodão.
Na quinta-feira, o estudante passeava de carro na cidade e foi sequestrado por homens encapuzados. A partir de um informante, João Reis afirmou ter descoberto as identidades de pelo menos sete sequestradores.
Eles integrariam um grupo de mineiros e fluminenses especializado em assaltos a bancos e que estaria praticando seu primeiro sequestro. Segundo Reis, o chefe seria o mineiro Murilo Cabeção, que está foragido.
Ao dar entrevista, no prédio da chefia de Polícia Civil do Rio, no centro, junto com os policiais que conseguiram sua libertação, Lanna Neto afirmou não poder reconhecer os sequestradores, pois usava uma venda nos olhos.
Ele disse que passava o tempo todo acorrentado, pelos pés. Segundo policiais, o estudante teria sido levado para um barraco junto à represa Usina do Maurício, em Itamarati de Minas (MG). No domingo, foi transferido para o Rio.

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