São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
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O peso das importações

CELSO PINTO

O déficit da balança comercial, a diferença entre importações e exportações, deve ter ficado em torno de US$ 450 milhões, pelas estimativas do mercado. A má notícia do mês, se confirmada, seria um novo salto nas importações.
Se as estimativas estiverem corretas, as importações de setembro devem ter ficado na casa dos US$ 4,7 bilhões. Se forem descontados fatores sazonais, o número da importação fica ainda maior, em torno de US$ 5 bilhões, nos cálculos de um grande banco.
O número preocupa porque indicaria uma firme tendência de crescimento das importações no ano, não acompanhada, com o mesmo vigor, pelo aumento das exportações. Este banco já calcula o déficit comercial em US$ 3,5 bilhões este ano e supõe que, se a economia, de fato, crescer 5% no próximo ano, o déficit poderá ir a mais de US$ 6 bilhões.
O que está errado neste cenário, contudo, não é necessariamente um excesso de importações, mas uma insuficiência de exportações. O fato de as importações terem subido aceleradamente nos últimos anos pode deixar a impressão equivocada que o país escancarou as portas das importações a um nível sem precedentes.
Nada mais falso. Olhando em perspectiva, o nível das importações do Brasil, hoje, apenas está chegando perto do patamar dos anos 70, depois de terem despencado na década de 80, os anos da crise da dívida externa.
Octávio de Barros, da Sobeet, um centro de pesquisas de empresas transnacionais, estima que as importações neste ano deverão chegar a 8,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso, se o PIB for calculado em US$ 600 bilhões. Se o PIB ficar em US$ 650 bilhões, um número usado recentemente pelo Banco Central, as importações ficariam em 7,7% do PIB.
O que este número significa? Em primeiro lugar, seja 8,7%, seja 7,7%, será menor, em termos relativos, do que os 8,9% do PIB registrados no ano passado.
De todo modo, será quase o dobro das importações registradas em 1992, equivalentes a 4,6% do PIB. Desde então, as importações não pararam de crescer.
Olhando para os números dos anos 80, o salto das importações é impressionante. Em 1980 elas foram de 10,8% do PIB. A partir daí, caíram quase sem parar até chegar a apenas 3,9% do PIB em 1988.
Estes foram, contudo, os anos da crise, da absoluta falta de dólares, da recessão na economia e de todo tipo de restrições -tarifárias e não-tarifárias- às importações. Na década de 70, ao contrário, a tendência das importações foi de crescimento, a partir de 5,5% do PIB no ano de 1970. O pico foi em 74, quando as importações representaram 14,2% do PIB, um número atípico, puxado pela crise do petróleo.
Considerando a segunda metade dos anos 70, de 76 a 80, a média das importações ficou em 9,8% do PIB. Portanto, o nível atual de importações ainda é inferior a esta média. As exportações, em todo esse período, tiveram um comportamento mais regular, oscilando entre 8 e 10% do PIB desde 73 até os 8,3% previstos para este ano.
Países continentais, como o Brasil, costumam ser mais fechados e auto-suficientes. Mesmo levando em conta esse fator, o grau de abertura brasileiro é menor, por exemplo, do que o de outro país continental, os Estados Unidos, que importam 13% do PIB.
O presidente Fernando Henrique Cardoso ficou impressionado, recentemente, quando a associação dos supermercados veio lhe pedir para que não recuasse na abertura às importações. O argumento: os produtos importados representam apenas 3% do total vendido.
O drama não é voltar a erguer barreiras indiscriminadas às importações, mas estimular as exportações. Voltando às contas do banco, o nível mensal das importações (dessazonalizadas) subiu, neste ano, da casa dos US$ 3,5 bilhões para US$ 4,5 bilhões, patamar onde estacionou de junho a agosto. O eventual salto para US$ 5 bilhões em setembro indicaria novo fôlego das importações, empurradas pelo aquecimento da economia.
O mesmo aquecimento que tende a desviar exportações para o mercado interno.

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