São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
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Arquiteto critica obras com traço político

VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O arquiteto escocês Witold Rybczynski, professor da Universidade da Pensilvânia (Estados Unidos), acredita que é inconveniente as autoridades políticas possuírem poder muito grande sobre a configuração urbana das cidades.
Rybczynski veio ao Brasil para lançar seu livro, "Vida nas Cidades - Expectativas Urbanas no Novo Mundo", e participar de palestras sobre urbanismo.
Vaidade
Para justificar a tese da inconveniência, o arquiteto citou o caso de Paris (França), mais exatamente da pirâmide do Louvre, do Arco do Triunfo, do bairro de La Defense e da nova sede do Ministério das Finanças, que têm a cara do ex-presidente francês François Miterrand, mais do que a cara dos parisienses. "Cada governante quer impor a sua marca. Miterrand fez isso em Paris", disse.
Esses conceitos foram expostos na última quinta-feira, em um debate promovido pela Folha cujo tema foram as expectativas urbanas no mundo. Participaram do encontro os arquitetos brasileiros Edo Rocha, Roberto Loeb e Ricardo Julião. A mediação do debate foi realizada pelo jornalista João Batista Natali.
Crescimento
O arquiteto escocês, que estudou no Canadá e na Inglaterra, acredita que atualmente dois tipos de cidade estão crescendo no mundo: as horizontalizadas, com moradores vivendo em casas, como acontece em Los Angeles e Pequim -"uma coleção de casas, sem grandes prédios"- e as cidades com prédios e famílias vivendo em apartamentos, na verticalidade -caso de Nova York ou Tóquio, entre outras cidades.
Na opinião de Rybczynski, São Paulo se transformou em um meio-termo dos dois modelos de cidades.
"Começou com casas e hoje está se verticalizando, o que, acredito, é uma tendência das cidades latino-americanas", disse.
"Cósmicas, orgânicas"
Rybczynski falou também do que entende por "cidades cósmicas" e "cidades orgânicas" -definições que coloca sempre que participa de debates ou publica textos.
As "cósmicas" seriam aquelas com ligações místicas, religiosas e com simbologias fortes para a população.
No Brasil, o arquiteto identifica Brasília como uma cidade cósmica. "Brasília representa a sede do governo, do poder, assim como Washington também é cósmica".
Já as orgânicas seriam as velhas cidades que vão crescendo junto com sua população, "de um jeito amistoso, engraçado como se fosse um organismo, com as ruas significando artérias".

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