São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
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Atraso provoca quebra-quebra em estação

ROGERIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma estação e um trem da CPTM (Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos) foram depredados ontem de manhã, na zona leste de São Paulo, depois de um tumulto iniciado em função de atrasos nos trens.
O tumulto começou após um acidente com um "surfista" (passageiro que viaja em pé em cima do teto do trem) entre as estações de Ermelino Matarazzo e Engenheiro Goulart, por volta das 7h30.
Isaac Figueiredo Marques, 20, ficou preso na rede elétrica, que teve de ser desligada para o resgate, provocando atrasos de até uma hora nos trens. Marques foi levado em estado grave para o pronto-socorro do Tatuapé.
A estação Engenheiro Goulart foi totalmente destruída. A sala da chefia da estação foi incendiada, as bilheterias e vidros, quebrados, e um carro de um funcionário, estacionado ao lado da estação, depredado e virado.
Na estação de Ermelino Matarazzo, um trem com seis vagões que estava parado foi incendiado. Um dos vagões foi totalmente destruído e dois foram parcialmente queimados.
Ninguém ficou ferido. Segundo a direção da CPTM, uma pessoa teria sido presa, por incitar ao vandalismo. A polícia não confirma a informação.
A CPTM não tinha feito, até a noite de ontem, uma avaliação dos prejuízos causados pelo tumulto.
Para o presidente da companhia, José Roberto Medeiros da Rosa, o quebra-quebra pode ter sido organizado por maquinistas da própria CPTM, insatisfeitos com o último acordo coletivo da categoria, que teria, segundo ele, acabado com privilégios da classe.
Os maquinistas, que representam 6% da categoria dos ferroviários, organizados no Movimento em Defesa dos Ferroviários, realizaram uma operação padrão, provocando atrasos de 20 minutos nos trens ontem pela manhã.
"O acidente pode ter sido a desculpa. Os usuários já estavam insatisfeitos por conta destes atrasos. O acidente com o 'surfista' foi a gota d'água", afirma Rosa.
Baixa demanda
As estações Engenheiro Goulart e Comendador Ermelino fazem parte da linha variante leste da CPTM e têm, respectivamente, uma média de 451 e 1.493 embarques de passageiros por dia.
O total de embarques em toda a linha leste da CPTM, incluindo a linha tronco, é de 220 mil passageiros por dia.
O intervalo normal entre os trens é de 10 minutos no horário de pico. Segundo a CPTM, no início do tumulto já havia uma demora de 35 minutos.
A confusão teria começado por volta das 8h05 na estação Engenheiro Goulart. Os bombeiros foram chamados às 8h08 e chegaram no local às 8h18.
O fogo na estação foi totalmente controlado por volta das 9h45.
Estação fechada
José Roberto Medeiros da Rosa disse ontem que a estação Engenheiro Goulart vai ficar totalmente fechada até o final dos trabalhos de recuperação, que podem durar até o final do ano.
"Os passageiros perderam esta estação por conta do tumulto", disse. Ontem, após o tumulto, a estação estava funcionando com entrada livre.
Outro acidente
Em outro acidente, ocorrido na estação Roosevelt, no Brás (zona norte), o "surfista" Edilson José dos Santos, 24, caiu de cima do trem e teve fratura do omoplata direito, fratura exposta do cotovelo esquerdo e fratura da base do crânio.
O acidente ocorreu por volta das 9h e não provocou atrasos nos trens. Santos foi levado em estado grave para o pronto-socorro da Santa Casa (centro).
A CPTM tem, desde fevereiro, o projeto "Tem Gente Queimando no Pedaço", para prevenir acidentes com surfistas de trem.
Os passageiros que são pegos viajando no teto têm de passar por uma palestra sobre os perigos de surfar em trens. A família e o empregador do surfista também são avisados.
"O surfe ferroviário é crime, previsto pelo Código Penal", afirma Medeiros da Rosa.

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