São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
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Se a melhor escola fica em Parada de Taipas...

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Meio livro para cada aluno -nem mesmo disso dispõe a biblioteca da escola da periferia. São ao todo 1.404 alunos para um total de 450 títulos encontrados na biblioteca. Essa escola, no entanto, está entre as três melhores da rede estadual na cidade de São Paulo, pelo menos no que diz respeito ao desempenho dos alunos da 7ª série do 1º grau.
A escola de 1º grau Jacob Salvador Zveibil, que fica no bairro de Parada de Taipas, periferia da periferia da zona norte, participou de uma avaliação realizada pela Secretaria da Educação de São Paulo com alunos de 3ª e 7ª séries de 5.891 escolas estaduais.
A avaliação reprovou os alunos da 7ª série, que acertaram, em média, somente 40% das questões de português e menos de 30% das de matemática. Mas a escola de Parada de Taipas não apenas ficou entre as cem melhores do Estado, como entre as três únicas da cidade a constarem da lista das cem.
Todas as demais são do interior, de cidades pequenas e de nomes bonitos como Cássia dos Coqueiros, Auriflama, Vista Alegre do Alto, Severinia, Florinea ou Pontalinda.
A avaliação revelou dados interessantes como esse de que é o interior que dá melhor educação às crianças. Os motivos ainda não são esclarecidos pela Secretaria da Educação. Mas quem sabe é porque o interior nunca se deixou envolver totalmente pela onda das renovações em pedagogia, pelas discussões e inovações dos Piagets e Montessoris.
Quem sabe o interior ainda mantém acesa parte da chama da escola tradicional, centrada na transmissão de saber -e que, até hoje, parece ter ensinado melhor nossos avós do que todo o progresso da psicopedagogia conseguiu fazer por nós, os netos.
Outro dado significativo revelado pela avaliação é o fato de matemática aparecer como a área de ensino mais problemática, conforme matéria de Fernando Rossetti na Folha de 27/09. Mesmo nas escolas particulares, o acerto médio da 7ª série não passou dos 51%.
Isso não deve significar, entretanto, que matemática é assunto mais difícil do que os outros. Pelo que me lembro dos meus tempos de 1º grau, em meados dos anos 70, estava nos professores a causa da dificuldade de aprendizado das matérias da área de exatas.
Nenhum dos meus professores de matemática, física ou química jamais soube se expressar direito, falar direito português, arranjar definições com clareza suficiente para ensinar aos alunos os conceitos abstratos dessas ciências. O problema deles era português.
Mas a descoberta realmente comovente dessa avaliação é o milagroso caso da escola de Parada de Taipas. Quem estudou em escola pública sabe das péssimas condições do ensino, do desinteresse de professores que recebem salários miseráveis, da frustração que dá.
Se a melhor escola de São Paulo é a de Parada de Taipas, isso significa que há um erro imensurável no ensino público. Mas não tira o mérito de professores e alunos da periferia, que mereciam prêmio por "tirar leite de pedra".

E-mailmfelinto@uol.com.br

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