São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
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Família Dart pára mercado da dívida

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado secundário de títulos da dívida externa brasileira ficou praticamente paralisado ontem, com a volta à cena da família Dart -único credor externo que recusou-se a aderir ao Plano Brady, há dois anos.
Os Dart voltaram a agitar os bastidores do mercado de "bradies" (os títulos da dívida renegociada) ao decidirem ressuscitar, em forma de novos bônus, créditos de US$ 1,281 bilhão que têm contra o Brasil, originários dos extintos "Mydfas" (denominação anterior da dívida brasileira).
A oferta desses novos bônus aos investidores internacionais começou ontem em Nova York. Ela afetou os "bradies" brasileiros porque surgiram dúvidas sobre o impacto real dessa colocação nesse mercado, que gira em torno de US$ 2 bilhões ao dia.
É que o Brasil também se prepara para lançar nas próximas semanas um novo "global bond" de US$ 1 bilhão no mercado americano.
Como a soma dos dois lançamentos é expressiva e não se sabe ainda qual será a rentabilidade dos novos bônus, os operadores empacaram.
A cotação de venda dos títulos C-bond subiu 0,18% para 70,75 centavos por dólar de valor face (com deságio, portanto, de 29,25% sobre o valor original da dívida).
Os IDU bonds ficaram estáveis a 96,625 centavos. Os Par bonds e os Discount bonds caíram 0,62% e 0,16%, respectivamente, segundo ma corretora López León.
Semelhança
Os títulos brasileiros que mais se parecem com os futuros "Dart bonds" são os EI bonds, com prazo de seis anos e meio. Os EI subiram 0,57% ontem para 87,75 centavos por dólar de face na venda.
Nesse preço, os EI oferecem remuneração anual de 7,41%, com "spread" (margem de ganho) de 3,61 pontos percentuais sobre os títulos do Tesouro dos Estados Unidos com prazo semelhante.
A expectativa do mercado é que os "Dart bonds" sejam vendidos com deságio maior que o do EI, para que a rentabilidade fique um ponto percentual superior. Ontem, a diferença seria de 4,61 pontos percentuais.
"Em princípio, os bônus derivados da dívida junto aos Dart terão de pagar juros mais interessantes que o dos 'bradies"', diz o especialista Jordi Wiegekinck, da Wiegerinck Serrano Associados.
Ele explica que os novos bônus terão menos liquidez, ou seja, potencial de negociação diária no mercado. Isso porque não haverá instrumentos financeiros derivados desses papéis. Os bradies contam com diversos derivativos (opções de compra e venda etc).
O banco de investimentos Bear, Sterns & Co., que está coordenando a revenda da dívida dos Dart ao mercado, discorda.
"Vamos pulverizar a colocação dos bônus e assegurar a compra e a venda diária no mercado secundário", afirmou Nicholas Reade, diretor do Bear, Sterns.

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