São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
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FMI vai propor salvaguardas contra risco de crise bancária

Sugestões serão debatidas na reunião de abril

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O Fundo Monetário Internacional (FMI) vai propor aos seus 183 países-membros novas salvaguardas para o caso de crises nos seus sistemas bancários nacionais.
Como o sistema financeiro se torna a cada ano mais interdependente, dificuldades em um país podem afetar todos os demais.
O FMI afirma que 133 países sofreram "sérios problemas" em seus sistemas bancários de 1980 a 1996 e 36 deles passaram por "crises". O Brasil não está entre as nações listadas como as que enfrentaram crises. Argentina (três vezes no período), México (duas vezes), Venezuela e Chile estão.
A reunião anual do FMI e do Banco Mundial vai ser oficialmente aberta hoje em Washington, um pouco ofuscada pela cúpula do Oriente Médio, também marcada para hoje na capital dos EUA.
As sugestões para as salvaguardas bancárias vão começar a ser colhidas para discussão na próxima reunião da entidade, em abril.
As reuniões preparatórias no fim-de-semana resolveram a maior parte dos assuntos pendentes. Entre eles, a venda de parte das reservas de ouro do FMI para ajudar a diminuir a dívida externa dos países mais pobres do mundo.
Oposição
Apesar de a proposta contar com apoio de 85% dos integrantes da diretoria do Fundo, a obstinada oposição da Alemanha fez com que a venda de ouro fosse adiada mais uma vez. O diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus, não quis isolar a Alemanha. Segundo Pedro Malan, que é o governador brasileiro no FMI, o país votou pela venda de ouro. O FMI tem reservas de ouro no valor estimado de US$ 40 bilhões.
Mesmo sem a venda, o órgão vai entrar com sua parte no pacote para perdoar 80% da dívida externa de países como Uganda, Costa do Marfim, Etiópia, Guiana, Bolívia, Mali, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé, Sudão e Zaire.
Transparência
Outro ponto importante na reunião que se estende até quinta-feira é a adoção de maior transparência na divulgação de dados sobre as economias nacionais, como parte da estratégia do FMI para lidar com futuros problemas como a crise mexicana do final de 1994.
O Fundo deu prazo até 1998 para que seus países-membros coloquem na Internet, à disposição de investidores em todo o mundo, informações periódicas sobre suas economias. Só 34, por enquanto, aderiram ao programa.
O ministro Pedro Malan, embora descontando um pouco a importância que se atribui a esse sistema (ele não acredita, por exemplo, que a crise mexicana tenha ocorrido por falta de disponibilidade de informação para o mercado), disse que o Brasil vai cumprir o prazo.
Mas Malan acha que o país não deve adotar outra medida recomendada pelo fundo aos países-membros: tornar público o conteúdo das reuniões anuais de consulta feita por técnicos do FMI junto aos responsáveis pelas economias nacionais. Malan acredita que, se o teor das consultas for publicado, elas podem perder a característica de absoluta franqueza, considerada essencial por ele.
O Fundo não impõe aos países-membros que permitam a publicação das consultas anuais. Mas 34 deles já deram seu consentimento. Entre eles, Argentina, México, Índia, Nigéria, China, Indonésia, Colômbia, Coréia do Sul, Paquistão, Rússia, Polônia, Peru e os sete mais ricos do mundo.

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