São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O pensamento por um fio

MARIA ERCILIA
DO UNIVERSO ONLINE

Parece piada ou papagaiada new age, mas é um produto de verdade. O MindDrive é um sensor que, colocado no dedo, envia sinais elétricos ao computador -a idéia é que sua mente controle a máquina.
O aparelho decifra alterações elétricas da pele e envia comandos simples, do tipo sim ou não, para um software. A tecnologia em si não tem nada de revolucionário, é do mesmo tipo que a usada no velho e bom detector de mentiras.
O pai da invenção é Ron Gordon, presidente da Atari nos anos 70, quando a empresa criou o clássico jogo Pong.
A nova empresa de Gordon, The Other 90% (Califórnia, EUA - http://www.other90.com), lançou a engenhoca há alguns dias, junto com uma linha de games com títulos como MindFlight, MindMusic e PinballMind.
O nome da empresa -os outros 90%- é uma alusão à afirmação de Einstein de que a maioria das pessoas só usa 10% da capacidade de seu cérebro.
A Miramax, estúdio da Disney, vai produzir curtas-metragens com a tecnologia do MindDrive -segundo a empresa, o espectador poderá "controlar" a história com suas ondas mentais. Os filmes serão lançados na Internet.
O MindDrive oferece, à primeira vista, possibilidades de realização de visões de ficção científica e alimenta sonhos infantis de onipotência. Quem já não sonhou alterar mundo à sua volta com simples pensamentos? Segundo o slogan, o produto é "o primeiro computador operado por meio de ondas cerebrais".
Mas o usuário de um aparelho como o MindDrive não controla nada, acaba sendo muito mais passivo que nunca. A máquina capta impulsos involuntários, não processados conscientemente, que só podem ser chamados de pensamentos com licença poética.
Acorrentado ao computador por um fio, ele deixa que um software traduza esses impulsos para sua língua.
O esforço de decompor impulsos em linguagem, por meio de palavras ou comandos, é essencial ao ato de pensar. Uma máquina que entendesse ordens, articuladas em linguagem, seria um computador comandado pelo pensamento. Desse, ainda não há sombra.
No estágio presente, o MindDrive é apenas mais um artefato kitsch da cultura norte-americana, obcecada pela simulação de experiências e pela mimetização do ritmo burro das máquinas.
E-mail: netvox@uol.com.br

Texto Anterior: Eurochannel lança seriados da BBC inglesa e filmes europeus
Próximo Texto: Demi Moore e Sharon Stone fingem nos amar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.