São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
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MAM apresenta arte brasileira com sotaque atual

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Este mês, o parque Ibirapuera concentra uma instigante leitura da arte contemporânea brasileira. Em seu pavilhão, a 23ª Bienal realiza uma seleção sofisticada, somando Waltércio Caldas aos escolhidos pela Universalis.
A coletiva Antarctica Artes com a Folha, na antiga sede da Prefeitura de São Paulo, mapeia 65 exemplos de uma explosiva geração.
E o MAM, com "15 Artistas Brasileiros", soma a essas uma exposição imperdível: mostra artistas que unem sintonia internacional com uma brasilidade de tons artesanais.
Estudando artistas brasileiros, Tadeu Chiarelli, curador da mostra e diretor do MAM, percebeu que eles herdaram características da arte contemporânea mundial -a abstração, a seriação de imagens.
Ao mesmo tempo, mantinham um sotaque inconfundível. "Eles têm um diferencial, que está no uso da "gambiarra", no pensamento ligado à manufatura da mulher, ao artesanato", explica.
"É como se fizessem a ponte entre a crítica norte-americana Rosalind Kraus e o modernista brasileiro Mário de Andrade."
A exposição se inicia por uma parede carimbada de dourados circulares, pintados por Monica Nador. Regina Johas compõe painéis que seriam minimalistas, não fossem as estampas cobreadas e floreadas de suas superfícies.
Comentários pungentes e bem-humorados sobre o Brasil estão nas telas de Emmanuel Nassar, que refaz as engenhocas da vida paraense, unindo garrafas, mapas.
Barroco mineiro
Jac Leiner reconta a história da inflação, modulando séries de notas de dinheiro e selos de embalagens de cigarro.
Fernando Lucchesi revisita o barroco mineiro com uma "cozinha" de ferro homenageando Alexander Calder.
Efrain Almeida reinterpreta ex-votos com pezinhos seriais. Montez Magno pinta cores que remetem à arquitetura nordestina.
A presença da tradição feminina e artesanal está em obras como as de Edith Derdyk, que lida com a materialização do tempo por meio da costura. Costuras e bordados marcam os tecidos de Leonilson.
Leda Catunda recorta e infla sensuais gotas e línguas agigantadas, de tecido pintado. A catarinense Maria Clara Fernandes tece um longo tapete de bromélias vivas.
Lia Menna Barreto comenta a perversidade feminina com bonequinhas de pelúcia e uma série de ninhos roubados. Ana Maria Maiolino compõe rolinhos de barro, reminiscentes da fatura do pão.
Uma síntese da mostra pode estar nos "cubos" de Luiz Hermano e Shirley Paes Leme.
Ele cria uma organicidade que se expande a partir do metal, esboçando um contorno gradeado. Ela compõe essa forma em fricção com a volúpia orgânica dos galhos que usa como matéria.
Imperfeitos e exuberantes, eles somam intenção geométrica com espontaneidade artesanal.

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