São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
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Milícia afegã lança ofensiva no norte

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Depois de tomar o governo do Afeganistão, a milícia estudantil Taleban expandiu o seu território em direção ao norte e ficou frente a frente com forças da guerrilha rival uzbeque pela primeira vez.
Cerca de 250 mil pessoas (um quarto da população) já fugiram de Cabul, a capital do Afeganistão, desde que parecia iminente a conquista da cidade pela milícia, segundo funcionários de agências de ajuda internacional no local.
Os guerrilheiros tomaram a cidade na sexta-feira e declararam a criação de um governo baseado na lei islâmica, proibindo inclusive o trabalho de mulheres.
O governo do presidente Burhanuddin Rabbani se refugiou nas montanhas ao norte do país, provavelmente em Jabal-us-Seraj.
Na noite de anteontem, o Taleban tomou a cidade e passou a buscar os membros do governo, que teriam novamente fugido.
Eles disseram ter cercado o ministro da Defesa, Ahmad Shah Massod, mas a informação não pôde ser confirmada. "Vamos persegui-los até a fronteira. São criminosos, não vamos perdoá-los", disse um guerrilheiro.
O Taleban pediu permissão do líder guerrilheiro uzbeque, Abdul Rachid Dostum, para passar pelo túnel Salang. O grupo queria seguir pelo túnel para o norte, mas a permissão foi rejeitada.
Não se sabe se a intenção do Taleban é passar pela área para buscar membros do governo ou tomar territórios do líder uzbeque, com quem o Taleban nunca lutou. Tropas do uzbeque e do Taleban se concentraram na região do túnel.
Salário
O novo governo do Taleban anunciou ontem que vai pagar os salários para todas as funcionárias públicas que foram ordenadas a ficar em casa até segunda ordem.
A medida tenta diminuir as críticas internacionais feitas ao grupo por suas decisões. Segundo testemunhas, membros do grupo chegaram a espancar mulheres por causa de suas roupas.
A Unesco, responsável pela política educacional, científica e cultural da ONU, disse ontem estar preocupada com a discriminação de mulheres no país. A organização citou o fato de as escolas para garotas terem sido fechadas nos locais controlados pelo Taleban.
Paquistão
A primeira-ministra do Paquistão, Benazir Bhutto, negou ontem que seu governo tenha ajudado o Taleban a tomar o poder no Afeganistão, mas reconheceu o novo governo formado pelos guerrilheiros. A milícia tem sua origem nas escolas religiosas do Paquistão.
Ela disse que "esperava exercer influência de moderação" junto ao grupo. "Quando o Taleban fecha as escolas para garotas, fico infeliz. Mas me disseram que algumas delas estão sendo reabertas."
Além do Paquistão, os EUA também estão sendo acusados (pelo Irã) de ter ajudado o Taleban. Os americanos estariam tentando diminuir o poder iraniano na região.

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