São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
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Oposição quer 'povo na rua' contra 'Bibi'

IGOR GIELOW
DO ENVIADO ESPECIAL

A oposição trabalhista em Israel, impossibilitada de derrubar o premiê Binyamin "Bibi" Netanyahu por ser minoritária no Parlamento, planeja uma campanha popular em favor de um governo de coalizão.
Em entrevista à Folha, a deputada Yael Dayan, do Partido Trabalhista (o mesmo do ex-premiê Shimon Peres), expressou o desejo de "pôr o povo na rua" contra a política do direitista Netanyahu.
Dayan é figura conhecida da política israelense. Filha do lendário comandante militar Moshe Dayan, ela escandalizou os judeus mais ortodoxos ao ser fotografada tomando banho de sol em Tel Aviv durante um feriado religioso, há alguns anos.
Atos
Segundo ela, o movimento contra "Bibi" já está em curso.
E há sinais. No sábado, 50 mil pessoas se reuniram em Tel Aviv para ouvir discursos culpando "Bibi" pela atual crise no processo de paz.
Anteontem, foram 7.000 em uma passeata pelas ruas de Jerusalém, cidade tradicionalmente mais conservadora quando se trata da relação com os palestinos.
O grupo Paz Agora, organizador das últimas manifestações, deve ser o "motor" da mobilização, diz Yael Dayan.
A seguir, trechos de sua entrevista, concedida ontem pela manhã, por telefone, de Tel Aviv.
Folha - Como a sra. vê a atual crise em Israel?
Yael Dayan - Como uma triste constatação do erro da política do atual governo. Infelizmente, Netanyahu está estragando todo um legado de paz.
Folha - Ele é o culpado, ao abrir a saída do túnel?
Dayan - Sim. O túnel deve ser fechado o mais rápido possível.
Folha - E a conferência nos EUA?
Dayan - Ela é absolutamente necessária. É hora de Netanyahu rever suas posições e firmar compromisso em relação aos acordos de Oslo (de paz). Ele está desviando os rumos dos acordos.
Folha - Mas em seus discursos internos ele continua duro. Como quando, por meio do assessor David Bar-Ilan, falou em desarmar os palestinos.
Dayan - Isso é bobagem. Se você desarmar os palestinos, Arafat será morto. E aí teremos de negociar com o Hamas (Movimento de Resistência Islâmico, radical), não com uma autoridade constituída sob acordo internacional.
Folha - Especula-se um voto de desconfiança contra "Bibi". Mas o Shas (partido independente) já disse que não apóia, e vocês têm minoria.
Dayan - Se tivéssemos maioria, seríamos o governo. Não conseguiremos nada por via parlamentar, apenas marcar nossa posição. Isso é muito importante neste momento.
Folha - Qual a saída, então?
Dayan - Voltar nossos esforços para a metade da população que votou no candidato do Partido Trabalhista na última eleição.
Folha - Promovendo mobilizações como a que ocorreu no sábado em Tel Aviv?
Dayan - Sim, é um jeito. Nós precisamos organizar a grande massa contrária a "Bibi" até forçar sua renúncia, ou um governo de coalizão.
Folha - O grupo Paz Agora seria um bom interlocutor para organizar o movimento contra o primeiro-ministro?
Dayan - Sim. O importante é mudar o caminho em que Israel está agora.

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