São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
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VOTO ELETRÔNICO

Cada vez que se faz uma pesquisa sobre o novo voto eletrônico, em todas as 57 cidades brasileiras com mais de 200 mil eleitores, o resultado é assustador: uma parcela significativa dos pesquisados não sabe como votar, ainda que as razões variem conforme o teor da pesquisa.
Além da questão política envolvida (o risco de que a vontade do eleitor acabe distorcida por problemas puramente mecânicos), há um outro aspecto que só pode causar tristeza.
As autoridades eleitorais trataram de idealizar, para a votação eletrônica, o mais simples e fácil de compreender dos equipamentos.
Trata-se da mera reprodução de um aparelho telefônico de teclas, objeto de uso cotidiano para uma parcela razoável da população. Ou, se se preferir, trata-se igualmente de um esquema semelhante ao uso de cartão eletrônico de bancos.
As dificuldades que um grupo de eleitores encontra para usar equipamentos tão simples é tristemente reveladora do subdesenvolvimento brasileiro. Se, na capital do Estado mais rico do país, ocorre esse fenômeno, é fácil imaginar quão mais grave será em outras cidades.
Parece evidente que o telefone de teclas, absolutamente comezinho para a classe média, mesmo a média baixa, não é tão familiar assim para os segmentos de renda mais baixa, a ponto de provocar dificuldades para digitar dois números nos testes com a urna eletrônica.
Quando o mundo já entrou na era da informação, é inquietante verificar que um número importante de paulistanos não domina a mais rudimentar das informações, que é a capacidade de usar uma urna eletrônica que simplesmente reproduz um aparelho telefônico convencional.
Talvez a campanha educativa para ensinar o brasileiro a votar resolva o problema conjuntural do pleito de 3 de outubro. Mas será preciso mais, muito mais, para familiarizá-lo com equipamentos que serão indispensáveis para a dura batalha da competição no mundo globalizado.

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