São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
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CRESCIMENTO E POBREZA

Durante a maior parte do período militar, travou-se um diálogo de surdos entre simpatizantes e opositores dos governos da época.
No lado situacionista, atribuiu-se ao então ministro Delfim Netto a teoria de que era preciso esperar o bolo crescer para depois distribuir a renda. Na oposição, usava-se a concentração de renda como argumento contra o regime, além da crítica à restrição às liberdades públicas.
Esse tipo de controvérsia fácil acabou dando cores mais ideológicas, mesmo após o restabelecimento da democracia, para uma discussão que talvez devesse ser travada em outros termos, mais concretos.
Agora, textos de economistas do Banco Mundial e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) mudam o enfoque e retiram do debate o viés ideológico anteriormente subjacente, qual seja o de atribuir à esquerda (e apenas à esquerda) a defesa da redistribuição de renda e, à direita, o papel de defensora empedernida do "statu quo".
Tais trabalhos demonstram que redistribuir ativos, o que inclui, por exemplo, a terra (e vai, portanto, além da renda), contribui para o crescimento econômico.
Ou, posto de outra forma: parece razoável concluir que menos desigualdade pode significar mais crescimento. E, como crescimento é bom para todos (pobres e ricos), a redução das desigualdades só pode ser igualmente positiva para todos.
É claro que o tema tem também uma conotação ética, em particular no Brasil, país em que sucessivas pesquisas têm mostrado um grau extremo de concentração da renda e também de ativos como a terra.
Mas trata-se acima de tudo de repor a questão nos seus verdadeiros termos: a redistribuição de renda não é uma bandeira da esquerda nem é apenas um problema ético. É uma necessidade pragmática. Afinal, ninguém pode ser contra o crescimento e, por extensão, contra a redução dos entraves que o tornem de mais difícil obtenção.

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