São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Clube da alcachofra esconde a receita

FELIPE MIURA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Plantar alcachofra é coisa para iniciado. A fórmula para o cultivo dessa planta exótica é uma espécie de segredo de Estado, guardado "a sete chaves" pelos agricultores de São Roque, Ibiúna, Capão Bonito e Piedade, em São Paulo.
Em Piedade (98 km a oeste de São Paulo), município que lidera a produção brasileira de alcachofra, a cultura é praticada por apenas 30 agricultores, segundo levantamento realizado pela Casa da Agricultura local.
É um círculo restrito de produtores, todos unidos pelo parentesco e a ascendência japonesa.
"Ninguém repassa mudas para outros de fora e todos mantêm em segredo as técnicas de manejo", afirma Osmar Borzacchini, agrônomo responsável pela Casa de Agricultura.
Mesmo entre os membros do "clube da alcachofra", segundo Borzacchini, há certas técnicas que são mantidas em sigilo.
"Quem consegue alcançar boa produtividade não revela a sua fórmula", diz o agrônomo.
Os agricultores de Piedade devem colher 150 mil caixas de alcachofra nesta safra.
"Isso equivale a 70% do consumo nacional", diz George Yassunobo Osako, 50, produtor há 30 anos na região.
A colheita, iniciada em agosto, tem pico de produção entre setembro e outubro, mas pode se estender até dezembro.
O número de botões por caixa, que tem entre 12 e 13 quilos, varia conforme a época, atingindo de dez a 20, durante os primeiros meses da safra, até 60, no final.
Na Casa da Agricultura de Piedade, o último levantamento disponível sobre a safra é de 1994, quando a área plantada no município era de 120,8 ha, com produtividade média de 30 mil botões/ha.
Nos últimos três anos, segundo os produtores, a área cultivada cresceu entre 10% e 20% por safra.
O aumento do plantio está estimulando os agricultores a construir uma indústria de conserva na região.
"Essa será a solução para a venda do excedente, quando o mercado não conseguir mais absorver a produção", diz Osaka.
Como são próximos, os produtores controlam a oferta de botões durante a safra para impedir uma queda brusca dos preços.
Quase toda a produção é enviada para a Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo).
Na semana passada, o preço pago ao produtor por caixa (com dez a 20 botões), posta na Ceagesp, estava entre R$ 8 e R$ 10.
Pelos cálculos de Osako, mesmo com esses preços, o produtor consegue lucro de 20%.

Leia mais sobre alcachofra na pág. 6-4

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