São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Pastoral da Terra registra 45 mortes no campo em 96

Entidade católica teme que volta da UDR acirre conflitos

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Relatório divulgado pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), órgão ligado à Igreja Católica, revela que 45 pessoas foram mortas entre 1º de janeiro e 20 de setembro deste ano, em consequência de disputas por posse de terra no país.
O número de homicídios nesses nove meses supera o registrado pela entidade em todo o ano de 1995.
Segundo a entidade, no ano passado 41 trabalhadores rurais morreram em conflitos por posse de terra.
Naquele ano, 12 pessoas morreram somente na chacina de Corumbiara (RO).
O Pará, com 31 mortos, é o Estado campeão em número de assassinatos por questões agrárias neste ano, informa o relatório.
Só no dia 17 de abril, 19 pessoas foram mortas por policiais militares em Eldorado do Carajás.
Os Estados do Amazonas, Bahia, Maranhão e Mato Grosso aparecem em segundo lugar, com três mortes cada. Em Sergipe teria ocorrido um assassinato, e em Goiás, outro.
"Reaquecimento"
Para o secretário-adjunto executivo da CPT nacional, Vilmar Schneider, os dados computados pela entidade apontam para o "reaquecimento" dos conflitos rurais no país.
"É necessário muito mais que um jogo de retórica para resolver os problemas no campo", afirmou Schneider.
"O governo criou um ministério que pensa mais em evitar confrontos do que em fazer reforma agrária", disse ele.
UDR x posseiros
A CPT, disse o dirigente, receia que a recriação da UDR (União Democrática Ruralista) possa desencadear uma "crise no campo semelhante à ocorrida nos anos 80".
A década passada, afirmou, foi marcada pelo grande número de conflitos e assassinatos, provocados por disputas diretas entre posseiros e grandes proprietários de terras.
Recorde
Segundo a Comissão Pastoral da Terra, em 1985 ocorreram 712 confrontos rurais no Brasil, que resultaram no recorde de vítimas nos últimos 11 anos: 139 pessoas mortas.
O maior número de choques entre trabalhadores e fazendeiros, porém, aconteceu em 1986.
Em 95, a CPT registrou 554 confrontos.
Ainda segundo a entidade, nos últimos 11 anos ocorreram 51 julgamentos envolvendo acusados por mortes no campo.
Sete pessoas foram condenadas pelos seus crimes e duas estão foragidas, afirmou Vilmar Schneider.

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