São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Motta ocupa lugar de Serra no palanque

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, "roubou" a cena da campanha de José Serra (PSDB) à prefeitura paulistana. O show de declarações de gosto duvidoso e acusações a adversários políticos começou anteontem à noite e prosseguiu ontem.
No encerramento do debate entre os candidatos à prefeitura, anteontem, Motta tentou atacar Luiza Erundina (PT) e escorregou. "A Erundina eu só lamentei que ela está prepotente, né? Deve ser a idade, a menopausa..."
Motta cometeu a frase ao tentar argumentar que avaliara como deselegante a pregação da petista, que se considera dona de um lugar no segundo turno da eleição.
Erundina foi também o alvo da segunda frase inusitada do ministro e amigo do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Achei que a Erundina e o Pitta iam se beijar, ia sair um caso em público. Seria talvez bom para os dois", disse.
O vislumbre de um possível romance entre os adversários de Serra ocorreu quando o ministro analisou uma suposta aliança entre Pitta e Erundina no debate.
A metralhadora de Motta não parou por aí. Disse que Paulo Maluf, patrocinador da campanha de Celso Pitta, era "corrupto" e que o candidato do PPB era despreparado. "O Pitta é um cara que está quase na idade da pedra."
Na sequência, fez uma brincadeira para explicar o que entendeu ser o fraco desempenho do candidato malufista no debate. "Nós roubamos o ponto eletrônico que trouxeram para ele, e ele não conseguiu fazer debate", divertiu-se.
Segundo turno
Não se pense, porém, que "Serjão" tenha apenas reservado ataques aos petistas. A Aloizio Mercadante, candidato a vice na chapa encabeçada por Erundina, afirmou que "faço qualquer coisa para não eleger aquele babaca". Não ficou claro se Pitta ou Maluf era o alvo da cotovelada.
Ontem, o ministro participou de uma parte da caminhada com Serra no bairro da Penha (zona leste). Disse que Erundina estava "desequilibrada, quase histérica" no debate. Pediu a renúncia da candidata para "varrer o malufismo" e voltou a disparar contra o PPB.
"O Pitta estava com um olhar meio palerma quando ficou sem o ponto eletrônico", acha. Sobre Maluf, que em seu entender teria interesse em manter com Pitta "um esquema montado de corrupção em São Paulo", o tucano acrescentou: "Não sei nem se o Maluf manda no partido dele. Ele é uma espécie de grande boneco, o Topo Giggio. É ridículo esse Maluf", xingou.
Serra
O candidato do PSDB renovou a pregação pelo voto útil. Argumentou que Maluf e Pitta estariam se empenhando pela ida da candidata do PT ao segundo turno por saber que, dessa maneira, teriam a vitória quase assegurada.
Serra tentou explicar uma declaração feita no debate que deu margem à interpretação de que ele consideraria até aceitável o malufismo, desde que liderado pelo próprio Maluf.
"O que eu disse é que o malufismo já é algo deplorável, uma doença em São Paulo. Sem o Maluf..."
Pegou mais pesado quando deu um exemplo. "Uma quadrilha do Al Capone sem o Al Capone é muito mais sem graça", acha Serra.
O candidato peessedebista voltou a acusar Maluf de superfaturar a obra de construção da avenida Águas Espraiadas (zona sul), cujos 5 km custaram 600 milhões.
O tucano caminhou por ruas comerciais de Ermelino Matarazzo (zona leste), antes de seguir para a Penha. No início da noite, tinha programação idêntica na região central da cidade.
A avaliação no PSDB é que, embora muito difícil de se concretizar a hipótese, ainda seria possível reverter a situação e superar Luiza Erundina, atualmente no segundo lugar. Para isso, o partido investirá numa pesada boca-de-urna.

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