São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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"Terei um governo de oito anos", afirma Conde

LUIZ CAVERSAN
DA SUCURSAL DO RIO

"Se fosse eleição para Papai Noel, ele já estava eleito."
O candidato do PFL não chegou a ouvir essa blague de um comerciante do centro do Rio, no começo da semana passada. Se tivesse ouvido, não ficaria irritado.
"Realmente exerço uma atração muito grande nas crianças. Acho que é uma coisa de avô", tentou justificar o candidato, por trás do cavanhaque branco e do perfil roliço, que sempre sugere a relação com o "Bom Velhinho".
Acusado por seus detratores de "pau-mandado" de Cesar Maia, inexperiente politicamente e tecnocrata, Conde foi uma das surpresas desta campanha.
Totalmente desconhecido do público, dicção péssima e um tanto desajeitado no contato com o eleitor, pouco a pouco ele foi galgando os índices da pesquisa.
Saiu de escassos 4% no levantamento Datafolha de 9 de julho, chegou a 38% em agosto e ficou nos 32% na última pesquisa.
"Há chances de eu ganhar no primeiro turno", disse à Folha.
Chegando "lá" no primeiro turno ou passando para o segundo, Conde terá sido um caso exemplar de transferência de votos. "Sou o candidato do prefeito, vou fazer um governo de continuação. Será como se o governo Cesar Maia tivesse oito anos", afirmou.
Como secretário de Urbanismo, Conde foi o planejador e executor do mais polêmico programa de reforma urbana dos últimos anos da capital fluminense, o Rio Cidade, que transtornou a vida de 17 bairros para mudar calçadas, trocar postes de iluminação, complicar o trânsito. Mas deixar diversos locais do Rio com uma cara mais bonita, ainda que, para alguns, com artifícios de gosto duvidoso, como o obelisco de Ipanema.
Aos que dizem que não saberá cuidar da cidade porque não tem experiência política, Conde responde sempre que esta é uma qualidade. Mas não a única.
"Nunca fui político", disse ele, relembrando que só concorreu ao cargo de diretor da faculdade de arquitetura e venceu o pleito.
"Mas sou um arquiteto bem-sucedido, professor titular da UFRJ, tive experiência de executivo dirigindo as obras do Rio Cidade. Também coordenei o grupo que fez o plano estratégico do Rio e possuo um currículo para mostrar. Aos 62 anos, não tenho mais tempo para aventuras", disse.
É nesse currículo e na sua vivência profissional que Conde foi buscar as respostas para as questões que surgiram ao longo da campanha. Sempre que possível, trazia para a conversa exemplos bem-sucedidos do exterior.
Mas o argumento mais frequente na pregação eleitoral de Conde é mesmo o que foi feito na gestão Cesar Maia.
Para as populações mais bem-servidas, acena com a ampliação do Rio Cidade para muitos outros bairros. Para os carentes favelados, promete levar o projeto Favela-Bairro a todo canto.
Se mantiver a primeira promessa, certamente será alvo de muitas críticas, uma vez que o projeto atual, além de ter transtornado por mais de um ano a vida de grande parte da cidade, tem absurdos como o fato de um modelo de poste ter custado mais de R$ 8.000 cada.
Se mantiver a segunda -que consiste na pavimentação, saneamento e implantação de serviços sociais nas favelas-, poderá passar quatro anos fazendo só isso, já que o Rio possui mais de 400 favelas, com cerca de 880 mil habitantes, segundo o IBGE.
Na reta final deste primeiro turno, Conde acabou se envolvendo com temas polêmicos, que nada têm a ver com eleição. Apesar de pertencer a um partido conservador, disse que o aborto é uma questão para ser decidida exclusivamente pela mãe e que é favorável à união homossexual.
Foi o suficiente para ser bombardeado por adversários, sobretudo Cabral Filho. Não chegou a se retratar, mas divulgou nota exaltando os valores cristãos e da família.
Qual é o problema do Rio que mais o preocupa?
"É o dia-a-dia do jovem que tem entre 11 e 18 anos. É uma juventude desesperançada, que não estuda mais, não arruma trabalho e não vê perspectivas para o futuro."
Por que as obras do Rio Cidade causaram tantos problemas?
"Elas atrasaram seis meses por causa das concessionárias, como a Light, que não tinham dinheiro para executar sua parte nas obras."
Como vai ajudar a resolver o problema da violência?
"O tráfico gera muito mais violência que a pobreza. Por isso vamos usar a Guarda Municipal para o policiamento ostensivo e debater muito o problema, que é de interesse nacional."
Como disciplinar o trânsito caótico do Rio?
"Com campanhas educativas e multas para os infratores."

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