São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Cabral Filho quer promover 'invasão social'

LUIZ CAVERSAN
DA SUCURSAL DO RIO

O jornalista, filho de jornalista, presidente no Brasil dos Albergues da Juventude, candidato do governador Marcello Alencar, deputado estadual bom de voto e sobretudo rapaz bem-apessoado, Sérgio Cabral Filho odeia ser comparado ao ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Mas não adianta: até mesmo suas fãs -sim, ele tem eleitores e fãs- promovem a comparação. "Olha que bacana, igualzinho ao Collor", disse na última sexta-feira, no bairro de Campo Grande (zona oeste), a eleitora e fã Maria Evangelina, 30, ao ver a confusão gerada pela presença do candidato.
"Lindo, lindo", gritavam as balconistas. "Por causa dessa coisa da beleza tentaram me comparar com o Collor, mas quebraram a cara", disse o candidato à Folha sem que nenhuma sugestão nesse sentido tivesse sido feita.
Cabral Filho é um fenômeno nas ruas: por onde passa é cercado, abraçado, beijado, apertado. E dá corda a esse tipo de comportamento: não deixa passar uma mulher à sua frente sem que tasque dois beijos em suas faces. Crianças logo ganham colo e uma atenção especial é dedicada aos idosos.
A relação de Cabral com os mais velhos é conhecida no Rio. Ele sempre alimentou a fidelidade desse eleitorado, principalmente com sua atuação na Assembléia Legislativa, onde, como deputado do PSDB, conseguiu aprovar leis que estabelecem direitos aos cidadãos da terceira idade, como a concessão de descontos nos cinemas, criação de delegacia de polícia específica e acesso livre dos idosos nos ônibus sem necessidade de apresentação de qualquer carteira.
Cabelo branco Mantém, ainda, uma coluna semanal no jornal carioca "O Dia", denominada "Os Direitos da Terceira Idade".
"Cabelo branco me cativa", disse ele quarta-feira de manhã a uma eleitora do bairro do Méier (zona norte), onde fazia corpo-a-corpo.
Dois dias depois, no entanto, demonstrou no mínimo impaciência com um representante da sua "querida terceira idade". Diante da insistência de um homem de aparentes 65, que o desafiava a "contrariar a Constituição e demitir funcionários públicos", ele não teve dúvida: "Não enche meu saco, não enche meu saco", afirmou em voz alta, expressão crispada e punhos fechados.
Também hostilizado pelos assessores de Cabral, o idoso se retirou rapidamente e o candidato prosseguiu distribuindo afagos e beijos.
Mudar, mudar
A mudança para o novo, para algo diferente do que é a administração do "incompetente" Cesar Maia; mudar "pra ficar legal", como diz o jingle de Cabral, é o principal apelo do tucano.
"Com tanto problema para resolver, ele fica gastando dinheiro para fazer calçada", disse em tom indignado, referindo-se ao programa de embelezamento da cidade promovido por Maia e seu então secretário e agora candidato Luiz Paulo Conde.
"Isto é um monumento ao desperdício", afirmou, apontando para uma escultura em pracinha do centro comercial do Méier.
Cabral quer mudar, afirma que tem competência para isso. E mantém respostas prontas para os que o acusam de inexperiente.
"Fui durante três anos diretor da TurisRio e minha administração é reconhecida como eficiente por todos os representantes do setor. Pode perguntar a qualquer um. Durante quatro anos fui líder do PSDB na Assembléia Legislativa do Rio e, como presidente da Casa, mudei a Assembléia. Tenho vivência na administração pública", afirmou.
Formação
O candidato do PSDB também faz questão de ressaltar o que chama de sua formação política. "Fui membro do Partido Comunista Brasileiro dos 15 aos 19 anos."
Ele acredita que dispõe da credibilidade necessária para ser eleito e promover as reformas que considera fundamentais para o Rio.
"Como social-democrata, acredito que as oportunidades devem ser as mesmas para todos os cidadãos. É preciso acabar com o abismo social em que a cidade se encontra. O Rio tem a maior rede de escolas públicas na América Latina, com 1.033 unidades. É preciso pôr ordem nesta rede. Da mesma forma, os postos de saúde, que fecham às cinco da tarde, precisam ficar abertos 24 horas."
Como o prefeito pode ajudar a resolver o problema da violência?
"Vamos promover uma invasão social nas favela com creches, escolas, postos de saúde, saneamento. O povo bem tratado responde bem. E a invasão de autoridade acaba com o tráfico."
Como melhorar o trânsito?
"Com três ações: retomar o transporte de massa em parceria com o Estado e a União, construir grandes estacionamentos subterrâneos e punir os infratores."
Dá para ganhar a eleição?
"Terei dois ou três pontos percentuais a mais que Conde no primeiro turno e ganho dele no segundo."

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